Rui Rio tornou a vencer as eleições internas do PSD. Isso
terá contrariado muita gente à direita, gente despeitada e ansiosa de que se
retorne à política de punição das classes populares imposta por Passos Coelho.
Rui Rio representa uma outra vertente do centro-direita. Nele não há
ressentimento contra as classes populares, não se ilude com as fantasias dos putativos
liberais portugueses e parece conhecer bem a estratificação do nosso tecido social.
Tem outras virtudes. É autêntico, diz o que pensa e é capaz de enfrentar os
poderes instalados, como se viu no Porto.
Certos sectores da direita – e também na esquerda, claro –
acham-no um provinciano e uma personagem a fazer lembrar os tempos do Estado
Novo. Será um provinciano, mas também um democrata convicto. Julgo que, apesar
dos defeitos e limitações que possui, tem virtudes suficientes para dar um bom
primeiro-ministro, que poderá introduzir um conjunto de rupturas importantes
para o país, sem esfrangalhar o tecido social e sem devanear com as tontices
liberais debitadas pelo grupo que rodeia o jornal Observador. Será liberal na economia, mas não tentará destruir os
sindicatos nem o Estado social. Estará mais próximo de Angela Merkel do que de
Margaret Thatcher.
Poderá derrotar a esquerda? Neste momento, a tarefa parece
impossível. No entanto, a esquerda está mais frágil do que parece. É
maioritária, mas não tem um projecto político comum. Mais do que isso, deixou
de existir o temor da devastação social que Passos Coelho gerou em toda a
esquerda e a uniu. Rui Rio está muito longe de assustar desse modo tanto o BE
como o PCP. Por outro lado, a inconsistência, a arrogância e a falta de rumo do
actual governo, com uma equipa ministerial fraca, tornar-se-ão, com o passar dos
meses, cada vez mais óbvias. Os portugueses começarão a cansar-se de António
Costa e a procurar uma alternativa.
Para chegar ao poder, Rui Rio precisa de sorte e de resolver
três problemas. O primeiro é a criação de uma alternativa mobilizadora do país,
tanto ao nível programático como no das pessoas com que se rodeará. Em segundo
lugar, terá de unir o partido, sarar as feridas e curar as fracturas, o que o
aroma do poder ajudará. Por fim, terá o problema mais complicado, o de ocupar o
terreno da direita social que o estado comatoso do CDS está a deixar em aberto
e que pode ser pasto para um partido como o Chega. Apesar da desvalorização que
Rio tem feito das reais tendências antidemocráticas e iliberais do partido de
André Ventura, seria uma vitória de Pirro ganhar as eleições e depender de
gente como essa.
[A minha crónica no Jornal Torrejano]
[A minha crónica no Jornal Torrejano]
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