sábado, 6 de novembro de 2021

Quem paga a conta do chumbo do orçamento?

Julgo que os eleitores tanto do BE como do PCP não compreendem as razões que levaram ao chumbo do Orçamento de Estado. Quando falo em eleitores desses partidos não me estou a referir aos militantes e simpatizantes partidários que rodeiam esses militantes, mas às pessoas que votam nesses partidos não por fé ideológica, mas porque acham que eles são instrumentos para a defesa dos seus interesses e do bem comum. Nos eleitores de esquerda, incluindo os do PS, havia a expectativa da continuidade do governo, de uma gestão equilibrada do período pós-pandemia, se é que estamos em período pós-pandemia, e o que menos queriam era eleições. O orçamento, tal como estava, não representava um ónus para as classes populares e médias. Pelo contrário.

Nunca haverá consenso sobre quem teve a culpa da ruptura. Os socialistas dirão que se esforçaram o máximo para satisfazer as exigências à sua esquerda, dentro dos apertados limites impostos pela situação do país, mas que os partidos à sua esquerda colocaram os interesses partidários à frente dos do país. BE e PCP argumentarão que, no fundo, as eleições são desejadas por António Costa, pois este almeja uma maioria absoluta. É irrelevante saber quem tem razão. Como o professor Salazar muito bem sabia, em política aquilo que parece é. E aquilo que parece, a narrativa, para usar uma expressão em moda, mais forte é aquela que tende a dizer que o orçamento foi chumbado – e vamos a eleições, como avisou o PR – por culpa do BE e do PCP. Isto pode não ser completamente verdade, mas parece que é. E é isso que conta.

Do ponto de vista eleitoral, há duas incógnitas relativas ao comportamento dos eleitores. Estes limitar-se-ão a penalizar os aparentes culpados do chumbo do orçamento, BE e PCP, ou tenderão a penalizar a esquerda no seu conjunto, oferecendo uma vitória à direita, mesmo que esta esteja desconjuntada? Uma coisa esta história já assegurou, a não ser que haja um milagre. O Chega vai tornar-se o terceiro partido em peso eleitoral. Veremos até que ponto os eleitores se lembram dos tempos de Passos Coelho. É um facto que Rui Rio não é Passos Coelho, tem uma disposição mais social e poderá ser mais cauteloso na penalização dos mais frágeis e das classes médias. Nada assegura, todavia, que seja Rui Rio o chefe da direita nas próximas eleições. É possível que o PSD se entregue a Rangel e com este virá toda a tralha ultraliberal de que a geringonça nos tinha libertado. Se a direita ganhar as eleições, o BE e o PCP terão contas muito desagradáveis a prestar aos seus eleitores e ao povo de esquerda, digamos assim.

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