quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A degradação ocidental

Juan Genovés Candel - Sobre la representación política (1973)

Há dois fenómenos que mostram o grau de degradação a que chegou a vida política ocidental. O primeiro centra-se na capacidade que o fundamentalismo islâmico tem tido para conseguir colocar na agenda de muitos países ocidentais um conjunto de temas que pareciam há muito resolvidos. Bastam dois exemplos: o questionamento da separação entre religião e política e a negação sistemática da igualdade entre homens e mulheres. O segundo fenómeno provém da disputa presidencial em curso nos EUA. Que Donald Trump tenha ganho no campo dos republicanos e seja um candidato com possibilidades de vencer a eleição ultrapassa em muito experiências de degradação com a importância, por exemplo, do fenómeno Beppe Grillo e o seu Movimento 5 Estrelas, em Itália.

Apesar de, em aparência, não haver relação causal entre estes dois fenómenos, seria interessante questionar até que ponto a sua relação é mais que concomitante. Até que ponto o enfraquecimento dos valores ocidentais devido à pressão de valores exógenos, como os do Islão, está ligada à emergência deste tipo de protagonistas políticos que, nesta noite em que todos os gatos são pardos, encontram um caminho para a ribalta. O questionamento, porém, não deve ficar por aqui. Há que interrogar se a própria emergência na agenda política ocidental das reivindicações do fundamentalismo islâmico não estará ligada já à degradação da elite política ocidental, uma degradação que não foi reconhecida pelos eleitorados que, continuamente, foram sufragando políticos medíocres com agendas políticas perigosas e irresponsáveis.

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