Franz Marc - Cavalo azul I (1911)
Que tire o cavalinho da chuva. É a isto que se resume a profundidade
política em Portugal. Perante a mera hipótese de o PSD ser solicitado por
alguém, sabe-se lá quem, a assumir algumas responsabilidades no próximo
orçamento de Estado, Passos Coelho respondeu “que tire o cavalinho da chuva”.
Não contesto a legitimidade do PSD se excluir dessas responsabilidades. Faz
parte do jogo político. Contudo o recurso a este tipo de frases feitas não
destrói apenas uma certa gravitas que
deveria ser a marca do discurso político, mas revela um mundo mental que não
pode deixar de ser preocupante.
Estamos perante o universo mental da pós-adolescência, quando a
rapaziada, inebriada com o banho hormonal dispensado pela idade, se julga muito
engraçadinha. No fundo, para toda esta gente que fez vida nas jotas partidárias
– e, obviamente, não me refiro apenas a Passos Coelho e à JSD – a política
continua a não passar de uma pilhéria de rapazolas – agora também de raparigas –
que sentem dificuldade em regular o fluxo hormonal que os percorre.
O Presidente da República, talvez em desespero de causa, aconselhou a
António Costa e a Passos Coelho a lerem a tetralogia das novelas napolitanas de Elena Ferrante. Percebo a intenção presidencial, mas seria muito doloroso, um
verdadeiro salto no abismo, para toda esta classe política sair do mundo de
aventuras de Harry Potter, onde se move há tanto tempo, para entrar no sombrio
universo descrito por Ferrante. Julgo que, perante uma elite política em que a
profundidade de pensamento se resume ao tire
o cavalinho da chuva, Marcelo Rebelo de Sousa não terá, também ele, outro
remédio senão tirar o cavalinho da chuva, antes que apanhe uma pneumonia.
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