A minha crónica no Jornal Torrejano.
Quem faz política, antes de abrir a boca, deve medir o impacto que as
futuras afirmações poderão ter. A arte da prudência é essencial. Era tempo do Bloco de Esquerda (BE)
meditar sobre o assunto. A trapalhada relativa ao novo imposto sobre património
e o convite, endereçado por Mariana Mortágua, ao Partido Socialista, para este pensar
se quer ser alternativa ao capitalismo (sic)
são dois tiros no governo. Aquilo que a direita não tem conseguido fazer –
abalar o executivo – está a esquerda, com inexcedível empenho, a fazê-lo, e,
mais que todos, o BE. A direita exulta com a dádiva caída dos céus.
Grande parte das pessoas que votam à esquerda, onde me incluo, não
querem aventuras nem experiências sociais. Não querem descobrir alternativas à
economia de mercado. Sabemos todos, bem demais, onde conduzem essas
experiências e essas alternativas. Quer que a sociedade funcione melhor, que
seja mais justa, mas não possui qualquer interesse em abandonar o concerto dos
países ocidentais que têm, no cerne do seu desenvolvimento, a referida economia
de mercado. O BE e as outras forças de esquerda devem ter isso em consideração.
E um governo, em democracia, não governa para a sua facção. Governa para o todo
nacional.
Por outro lado, o BE – mas também a restante esquerda – deve ter a
sensatez suficiente para compreender o que poderá acontecer aos estratos
sociais que suportam a esquerda, caso o governo colapse e a direita volte ao
poder. Não vai ser bonito ver o revanchismo social da direita. E isso só não
acontecerá se o governo suportado pela esquerda conseguir convencer os
eleitores que possui as melhores soluções para o país. E dentro das soluções
virtuosas, para a grande maioria do eleitorado, não se encontra qualquer
aventura anticapitalista nem qualquer confronto com a União Europeia, da qual
dependemos para não voltarmos a ser reduzidos à miséria mais extrema.
O BE tem todo o direito de querer ser convertido à dimensão da extinta
UDP ou do velho PSR. Tem todo o direito de continuar a insistir na doença
infantil do comunismo, para citar Lenine. Mas se o BE quer abandonar a fase da
adolescência e ser uma organização política com contributos positivos para o
país e para as pessoas que representa, como por vezes parece, o melhor é
compreender a realidade em que vivemos, as nossas dependências e fragilidades,
e adequar o discurso e a acção para, de forma reformista, contribuir para uma
sociedade mais justa, mas também mais eficiente do ponto de vista económico e
social. Fundamentalmente, deve aprender a moderação na acção e a prudência de
pensar mil vezes antes de falar.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.