A minha crónica no Jornal Torrejano.
Tenho
estado a ler The Benedict Option: A
Strategy for Christians in a post-Christian Nation, um livro do conservador
Rod Dreher. O autor, um cristão ortodoxo americano, defende que os
Estados Unidos são já uma sociedade pós-cristã. O livro apresenta uma proposta
de resistência dos cristãos ao modo de vida actual. Uma parte dessa estratégia
passa pela educação das novas gerações. Dreher defende que as famílias cristãs
devem evitar educar os filhos nas escolas públicas. Caso não tenham dinheiro
para uma escola de orientação religiosa, a opção é fazer a escolaridade em
casa, para as novas gerações não serem contaminadas pela cultura existente na
sociedade pós-cristã.
Deixando de lado a visão apocalíptica do autor, há um
problema crucial que se coloca relativamente à educação das novas gerações. E
esse problema toca a cristãos, agnósticos e ateus. Como fazer passar os valores
familiares para os filhos? A questão surge pelo peso desmesurado que os grupos
de amigos, que se constituem, por norma, na escola, têm na formação dos jovens.
Esses grupos inscrevem-se numa cultura que rompe, de forma radical, com os
valores da família, cultura essa que é um produto híbrido entre a imaturidade
das novas gerações e a manipulação a que elas são sujeitas por adultos
obscuros, mas poderosos, escondidos atrás dos produtos de consumo, dos grandes
meios de comunicação de massas e das redes sociais. As chamadas culturas
juvenis fomentam, no mundo ocidental, a afirmação do jovem não pela emulação de
um modelo parental mas pela revolta sistemática contra ele.
O resultado de tudo isto é aquilo a que o sociólogo polaco
Zygmunt Bauman chama modernidade líquida. Nada no mundo contemporâneo é sólido.
Não o são as instituições e ainda menos o é a cultura. As culturas ditas
juvenis são uma das principais armas de liquefacção do mundo e introduzem
rupturas, quase sempre dolorosas, entre gerações. O diagnóstico de Rod Dreher
não é despropositado, pois o problema é real, tanto nos EUA como na Europa. A
rasura dos valores das gerações anteriores é um problema não apenas porque
afecta a transmissão de uma identidade colectiva, mas porque desarma os jovens
perante as ciladas do mundo. Ao contrário do que propõe Dreher com o seu
anátema da escola pública, precisamos de uma estratégia em que famílias e
escolas (públicas e privadas) encontrem meios que ajudem as novas gerações a
enfrentar o mundo e a preservar as tradições morais e culturais, de âmbito
religioso ou não, que lhes darão uma identidade sólida mas adaptável a um mundo
em dissolução contínua. É este o desafio.
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