Da realidade do sonho. Pedra Filosofal é uma das canções emblemáticas
do fim do salazarismo e do início da chamada primavera marcelista. Na verdade,
é, se se estiver atento e não embotado pela saudade ou enviesado pela
ideologia, a confissão de uma impotência ou, melhor, de um desejo a que falta potência. A realidade, essa meretriz que se
vende a quem tem o poder, era pouco dada ao devaneio onírico. Restava tomar o sonho por realidade, a boa e desejável
realidade que “eles” não conhecem. Este “eles”, na sua imprecisão referencial,
é sintomático de um tempo de censura, mas também de uma incapacidade de inscrição
do desejo na realidade, para falar à maneira de José Gil. Eles não sabem nem sonham / Que o sonho comanda a vida. O pior de
tudo no devaneio onírico é que o sonho de uns é o pesadelo de outros. Uma bela balada.
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