segunda-feira, 24 de maio de 2021

Os festejos do Sporting e a governação socialista

 

Perante o espectáculo das comemorações, em tempo de pandemia, da vitória do Sporting no campeonato de futebol, não faltou quem estabelecesse analogia entre esse acontecimento e aquilo que se passou no Natal. A semelhança mais notória foi a da permissividade. Permitiu-se que os portugueses fizessem o Natal como achassem melhor. Permitiu-se que os sportinguistas comemorassem o título de campeões como quisessem. Esta, porém, é a semelhança mais superficial entre os acontecimentos. Nos dois casos, qualquer pessoa, com um módico de inteligência e de atenção ao que se está a passar, poderia fazer uma previsão tanto do que iria acontecer em termos de comportamento de portugueses e de sportinguistas, como das suas consequências sanitárias. O traço que une os dois acontecimentos é a falta de coragem do governo para enfrentar os portugueses, desde que isso represente uma ameaça eleitoral.

Uma das coisas que parece ter-se tornado uma natureza nas governações socialistas é de nunca enfrentarem nem quem é particularmente poderoso, nem quem tem peso eleitoral. Não é que os governos socialistas não tenham enfrentado grupos de portugueses. Veja-se o caso dos professores e o caso dos camionistas. O governo enfrentou-os com decisão e grande eficácia, derrotando-os. Fê-lo, porém, porque estava ciente de que isso reforçava o seu peso eleitoral. Ainda por cima, só por manifesta má-fé se pode achar que professores do ensino não superior e camionistas são grupos poderosos. Os governos do PS estão vocacionados não para o que deve ser feito, mas para a contabilidade de ganhos e perdas eleitorais, mesmo que isso tenha consequências desagradáveis.

Este traço das governações socialistas é antigo. Encontra-se em todas elas com exclusão dos governos de Mário Soares, que fizeram, nas circunstâncias que eram as suas, aquilo que deveria ser feito, independentemente das consequências eleitorais. O que se passou com os festejos dos sportinguistas e com o Natal passado é um traço que se coaduna muito bem com parte dos eleitores portugueses. Gostam de soluções superficiais, de opções que não incomodem, de decisões que sejam agradáveis. Parte substancial dos portugueses é assim mesmo. A questão, porém, é se aqueles a quem foi dado o poder de governar se devem pautar pelo gosto da maioria ou se têm a responsabilidade de, a cada momento, tomar as decisões que melhor sirvam a comunidade, mesmo que isso desgoste essa comunidade. Nos casos do Natal e dos festejos dos adeptos do Sporting, tornou-se manifesta qual é a prática deste governo.

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