No entanto, o 25 de Abril de 1974 foi uma oportunidade para o nascimento de uma direita democrática em Portugal. Em torno de Sá Carneiro e de Freitas do Amaral, emergiu uma nova e democrática direita, que trouxe para a política nacional as perspectivas ideológicas, políticas, sociais e económicas das direitas democráticas europeias. Esta substituição da velha direita apoiante da ditadura pela nova direita foi uma das mais valiosas conquistas de Abril. No plano político não foi a única, pois também, com o desenrolar dos acontecimentos e a perda de ilusões, a esquerda revolucionária tornou-se democrática e parlamentar. O 25 de Abril foi o ponto de partida para uma aprendizagem geral da vivência política da democracia. Só então, os portugueses começaram a aprender o que era viver num regime marcado pelo pluralismo e pela concorrência.
Do ponto de vista político, qual o grande desafio que hoje se coloca ao regime saído do 25 de Abril? O grande desafio é evitar a radicalização e a transformação do combate político numa guerra de seitas. Há, em parte da sociedade, uma espécie de rancor à democracia e um desejo de confrontação, de transformação da vida política numa guerra entre nós e eles. Essa parte encontrou hoje a sua representação política histriónica. De momento, é minoritária. Contudo, os efeitos devastadores da pandemia por que estamos a passar podem criar uma situação social propícia a uma radicalização de novos sectores. A melhor forma de continuarmos a comemorar o 25 de Abril é, à esquerda e à direita, evitar radicalizações, evitar o corte de pontes com o outro lado, evitar que os cantos de sereia dos inimigos da democracia se façam ouvir com os seus tambores de guerra.
[A minha crónica em A Barca, de Maio]
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