Walde Huth, Model Patricia in Jaques Fath, 1955 |
No momento em que, tomada por uma lentidão trágica, ergue o braço e inclina a cabeça, ela deixa que o corpo, envolto em ondas de claro e escuro, contrastadas para se sublinharem, se torne um jogo de linhas e movimentos serpenteantes, de formas precisas e promessa adiadas, o sinal de um fogo contido, de um vulcão dissimulado, de uma estrela amenizada pelas longas distâncias. Toda o refreamento que há naquela silhueta hierática, colocada sobre a influência astral da mais conhecida das torres francesas, é o anverso do desejo que ateia nos olhos incautos de quem a olha. Num primeiro momento, é a roupa que se torna objecto desse anelo, mulheres que se queriam assim vestidas, homens que devaneiam descobrir-se ao lado de alguém que desse modo se apresentasse. O olhar, porém, só por momentos se entrega ao ludíbrio das aparências. Logo vê para lá do branco e negro com que ela se envolve. Antecipa o corpo livre daquilo que o cobre, o desalinho da entrega, o ardor que da pele haveria de chegar. Ela, porém, indiferente ao desejo de quem a possa desejar, encerra-se em si mesma, sublinha o seu segredo, para devir enigma e quebra-cabeças para os olhos que sobre ela recaem. Na sua mente, não há outra coisa senão esse momento em que se entrega à representação como sendo a única realidade existente no mundo. Toda a sua existência é feita de gestos suspensos, tornando-se estátua, libertando-se do efémero da vida, interpondo entre si e a realidade a mais intransponível das fronteiras. Nessa coreografia não há mácula, apenas a inocência de estar ali, a simplicidade culpada de não querer saber que toda a sua representação de uma fria distância é o rastilho aceso que explodirá, um fogo de artifício na noite mais escura do ano.
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