Pier Luigi Lavagnino, Estate, 1963 |
Uma das jovens mulheres, flectindo ligeiramente as longas pernas, inclinou-se sobre os pés. Soltava das fivelas as correias das sandálias, para que os pés, livres daquilo que os oprimia, pudessem enterrar-se ligeiramente na areia escura. A outra olhava o horizonte, na direcção de onde soprava o vento. O cabelo parecia querer fugir-lhe da cabeça e a toalha que segurava com ambas as mãos revolteava como se fosse uma bandeira açoitada pelo chicote da ventania. O sol trespassava a fina camada de nuvens e brilhava com uma luz esbranquiçada, anémica, incapaz de aquecer corpos e almas. Nenhuma delas trazia óculos escuros. O barulho do vento confundia-se com o rumorejo das ondas. Naqueles lugares, as águas do mar nunca são azuis ou verdes, mas cor de cinza, espalhando na paisagem uma melancolia difusa, uma tristeza que contrastava com o riso aberto e alegre daquelas mulheres, ainda tão novas. Tinham ambas a elegância do Norte, o corpo alongado, os seios nem pequenos nem grandes, como se aqueles corpos procurassem um equilíbrio, uma medida que lhes permitisse, em qualquer circunstância, evitar que a graça que deles emanava fosse posta em perigo. Condoído, o vento amainou por instantes, os cabelos delas repousaram sobre as cabeças, sem revoltear, sem insinuar fugir para longe dos corpos. Aproveitaram a condescendência dos elementos e estenderam as tolhas sobre a areia. Sentaram-se de imediato e tiraram as túnicas que as cobriam. Sobre o corpo, tinham um fato-de-banho preto, que lhes realçava a brancura da pele e lhes dava um ar sóbrio. O mar fora tomado por uma estranha placidez. As ondas formavam-se ainda longe da linha de rebentação, deslizavam lentamente e desfaziam-se como se estivessem exaustas, como se a energia lhes tivesse sido roubada. Não havia mais ninguém na praia. Elas deitaram-se nas toalhas. Falaram ainda alguns minutos. Palavras entrecortadas por um riso jovial, até que adormeceram. Um bando de gaivotas pousou não longe delas.
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