2. As desculpas de Guterres. Numa reunião com jovens, uma espécie de prelúdio para a Conferência dos Oceanos, o secretário-geral das Nações Unidas pediu desculpa à geração que vai “herdar um planeta com problemas”. Este pedido de desculpas é uma confissão de impotência. Não de Guterres, mas da espécie humana em lidar com os problemas que ela própria cria. Isto contraria a avaliação de Marx que afirmou que a humanidade apenas coloca problemas que pode resolver. Não é que não existam condições materiais para resolver o problema ambiental. Existem, mas não parecem existir condições subjectivas para o fazer. A resolução desses problemas exigiria que a parte mais rica do planeta sacrificasse o seu modo de vida, e a parte mais pobre sacrificasse os seus sonhos de se tornar rica. Exigiria que os homens não fossem homens.
3. Uma
viagem literária aos séculos XVIII e XIX. Tenho estado a ler os romances Lágrimas
e Tesouros (1863), de Rebelo da Silva, e Salústio Nogueira (1883),
de Teixeira de Queirós. O primeiro, um romance histórico, decorre no tempo de
D. Maria I, o segundo situa-se no tempo de D. Luís. Quase cem anos separam os
ambientes políticos do primeiro, marcado ainda pelas perseguições de Pombal, e
do segundo, o da monarquia liberal. Contudo, há tal continuidade nas atitudes
dos homens face ao poder que estas parecem ser coisa imutável na humanidade. É
esta imutabilidade da relação dos homens com o poder que dá pouca esperança para
se encontrar uma solução para o imbróglio em que a Europa está metida devido ao
impasse francês ou para a catástrofe que espera a humanidade motivada pelo
problema ambiental. A perspicácia de Marx choca com um dado fundamental. O
principal problema com que o Homem se confronta não é posto por ele, mas é ele
próprio. E este problema parece ser para a humanidade irresolúvel. Não consegue
deixar de ser o que é.
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