A primeira questão será a de saber se a sociedade portuguesa conseguirá conviver com um novo tempo de austeridade. Pois é disto que se trata. Os funcionários públicos, cuja situação era vista como um privilégio, há muito que se encontram em perda real e irão continuar a perder. A conflitualidade laboral aumentará paralisando os serviços, provocando o descontentamento dos cidadãos. Mesmo que, na economia privada, o emprego suba, assim como o salário mínimo, a experiência dos efeitos da inflação e o empobrecimento que eles implicam podem não levar a altos níveis de conflitualidade laboral, mas não deixarão de semear uma grande dose de ressentimento social a somar à que já existe e que só os mais distraídos pensarão que é pequena.
A segunda
questão é o impacto político. As políticas socialistas irão provocar
descontentamento com o governo. Se esse descontentamento tiver algum efeito à
esquerda, será de evitar uma hecatombe do PCP, salvando o partido de uma futura
irrelevância parlamentar, mas não mais que isso. O descontentamento levará o
eleitorado para a direita. O PSD sempre foi um hábil campeão social na
oposição, e agora não o será menos, mesmo que quando chegar ao governo seja,
desse ponto de vista, mais duro que os socialistas. Contudo, o crescimento do
PSD não será o único efeito político. É mais que previsível o crescimento
eleitoral de André Ventura, que encontrará no ressentimento social um terreno
fértil para as suas aspirações. O que levará, sobre isso não há qualquer
dúvida, a um acordo entre o PSD, Ventura e os liberais. É aí que a aposta de
António Costa conduzirá.
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