O filme mostra a vida de pessoas que são, para muitos de nós, completamente invisíveis. Sob a crosta de comodidade na qual decorre parte significativa da existência escondem-se autênticos exércitos constituídos por pessoas que vivem muito longe dos níveis de comodidade das classes médias. A sua característica fundamental é a invisibilidade, mesmo quando estão perante os outros, estes não as vêem A esta invisibilidade corresponde um trabalho duríssimo. Os ritmos da limpeza de quartos, casas de banho, etc. são elevadíssimos e a penalização para atrasos pode ser drástica, o despedimento. Toda esta gente – e no filme os trabalhadores são quase todos franceses de origem, digamos assim, embora também existam imigrantes ou descendentes destes – vive vidas sem sentido, destituídas de qualquer fantasia, a não ser a de poder abandonar aquele tipo de existência. Onde está o problema político?
Desde o século
XIX até ao último quartel do século XX os trabalhadores reconheciam-se em
determinados partidos políticos, os partidos sociais-democratas e os partidos
comunistas, e possuíam, mais ou menos desenvolvida, aquilo que se denominava
consciência de classe. Era esta que os orientava nas suas opções políticas e na
própria vida. Ora, todos estes trabalhadores precários estão longe de possuírem
uma consciência de classe e os velhos partidos operários implodiram ou
abandonaram as causas originais. Estas pessoas invisíveis, como o filme mostra,
têm sentimento da sua situação, mas este nem sequer é um sentimento de classe,
mas de revolta contra o mundo que os deixa ali. São uma parte importante dos
votos na extrema-direita e, se têm um sentimento político, é o de implodir o
sistema democrático e liberal. O filme é francês, mas poderia ser realizado em
Portugal ou em muitos países da União Europeia.
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