domingo, 19 de maio de 2013

A crise do regime

José Luis Molleda Rodríguez - Caos

O dr. Seguro acha que estamos à beira de uma "crise de regime". Talvez esta asserção represente um progresso do líder do PS na tomada de consciência da situação em que vivemos. Mas, infelizmente para os portugueses, abandonámos há muito esse lugar em que o regime se abeira da crise. Estamos, faz tempo, a viver num regime já em plena crise. Ninguém acredita na democracia, ninguém espera que os políticos, pela sua acção, contribuam para que os portugueses possam ter um módico de esperança. Das classes médias altas às classes mais baixas, os portugueses só encaram dois cenários. Empobrecer mais ou menos rapidamente ou sair daqui para fora e, se possível, não mais voltar. Apesar da aparente tranquilidade em que se vive, a vida nacional é um autêntico caos. O Estado - atacado sistematicamente por uma classe política inimputável - já mal funciona e a sociedade civil está exausta, sem ânimo e sem qualquer perspectiva de futuro. Não é preciso viver num tumulto permanente para que se viva no caos, basta que a esperança seja erradicada da vida das pessoas, como o foi pelas últimas governações, com especial ênfase para a actual. 

O que, todavia, é repelente na retórica de Seguro é o que ele não diz. Renegociar a dívida e colocar a questão do emprego como questão central são banalidades piedosas que até os adeptos do governo defendem. O que Seguro não diz - e não o diz porque ele não é diferente de Sócrates ou de Passos Coelho - é que caminhos propõe para renegociar a dívida e desenvolver a economia, não diz que alianças está disposto a fazer e que rupturas políticas propõe para nos retirar do estado crítico e caótico em que estamos metidos. Seguro não é diferente dos outros líderes da Internacional Socialista que há muito esqueceram os ideais da velha social-democracia e se deixaram contaminar pelas teorias económicas dominantes, aqueles que tornaram o regime português num verdadeiro caos, num inferno sem saída. Seguro apenas está à espera que o governo caia de podre para ver chegar a sua hora de fazer o mesmo, com uma ou outra mudança cosmética, que Coelho e Portas estão a fazer. Apesar do seu ar beato, quem acredita que Seguro seja o homem do milagre, o homem que traga uma novidade e acenda a esperança em Portugal? O que podemos esperar de alguém que tem por política não comprometer-se com nada?

6 comentários:

  1. Aquilo que é preciso neste momento não é nada de espectacular. Grandes gestos, rasgos imprevisíveis, inesperados golpes de asa? No imediato, não me parece que seja possível, nem sequer preciso.

    Aquilo que, neste momento, é necessário é humanismo, seriedade e competência.

    Compromissos, alianças, negociação - tudo isso é incontornável e não é necessariamente mau.

    Que as pessoas (as que votam) tenham os pés na terra, sejam exigentes, é o que se recomenda.

    Imaginar utopias, regimes ideais, não será o melhor para as decisões concretas que são necessárias.

    O que há que fazer é inverter o sentido da rota. Inverter as acções que estão a agir do lado da despesa, quando o que é necessário é agir do lado da receita. Compreender isto e compreender quais os passos a dar para o atingir é o mais importante.

    Perceber isto e lutar sempre pelas pessoas dentro e fora de fronteiras, e fazê-lo sempre com respeito pela população, honestidade e inteligência é o que se requer.

    A política é um permanente processo de decisão: escolher caminhos. Para quem vota é isso que se coloca: escolher qual o líder partidário que melhor pode pôr em prática um bom caminho.

    Se nas próximas eleições se perfilarem o Portas pelo CDS, o Passos pelo PSD, o Seguro pelo PS, o Jerónimo pelo PCP, o Semedo/Catarina pelo BE, então, muito realisticamente, penso que Seguro pode ser a melhor opção.

    Em abstracto, poderia haver uma boa dúzia de alternativas melhores que o Seguro mas, quando se escolha, escolhe-se entre o que há.

    Enfim, é o que eu acho.

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    1. O problema não se encontra em imaginar utopias. Utopia é o que o actual governo está a impor ao país (sempre que se tenta impor uma utopia o que se alcança é uma distopia). O curioso no meio de tudo isto é que os três partidos do arco da governação (os que nos trouxeram até aqui) contam o tempo, por motivos diferentes, para que cheguem as eleições alemãs. Mas as considerações do presidente do Bundesbank (http://www.publico.pt/economia/noticia/presidente-do-bundesbank-ataca-politica-seguida-pelo-bce-1594885) diz tudo sobre o que os alemães pensam do assunto.

      Quanto à questão da alternativa, tenho uma visão muito diferente. Não há qualquer alternativa. PCP e BE, mesmo que tivessem 1/3 dos votos, não contam (veja-se o caso grego d Syriza). Seja quem for que ganhe vai fazer a política que lhe for imposta. O ajustamento vai continuar até à destruição do Estado Providência, ou o que dele resta, por toda a Europa. Restarão estados assistencialistas e, talvez, grandes revoltas. A coisa não vai ser bonita de se ver.

      Tendo isto em consideração, Seguro irrita-me porque mente, de forma mais soft do que mentiu Coelho, fingindo que tem alguma alternativa. Não tem.

      Mas esta é a minha visão, a qual, por norma, é bastante pessimista.

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    2. Pois é. Tão pessimista que até dei por mim a sorrir (apesar do tema não ser para risos) - quase um Medina Carreira...:)

      quanto à questão europeia e, em particular, alemã, deixámos que a Europa fosse tomada de assalto por tecnocratas que não são sujeitos a plebiscito. Veja-se, por exemplo, esta hipótese do além que é, para se verem livres da sinistra figura que é o incompetentíssimo Gaspar, tudo fazerem para o porem como Comissário Europeu...

      Mas penso que isto um dia vira. O que é preciso é que não nos demitamos de lutar. O pessimismo é uma anestesia. Ou um pretexto para a inacção.

      E não creio que Seguro minta. Ele acredita que pode lutar por um caminho melhor para as pessoas. Nós podemos achar que ele se vai ver 'grego' para o conseguir, podemos pensar que é ingénuo. Mas mentir eu acho que ele não mente. Já o Passos Coelho mente compulsivamente desde que o vejo nestas andanças. Mais grave ainda que isso: mente com o despudor com que os muito ignorantes mentem (os ignorantes e os amorais, conjugação que é muito perigosa).

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    3. O meu pessimismo está ligado à sua crença "isto um dia vira". Vira para onde?
      É aqui que está o problema. Por mais que pense não vejo para onde isto há-de virar. Mas talvez não tenha perdido por completo a esperança, pois vou ver se começo a ler um lirvo do Ronald Dworkin com o sugestivo título SOVEREIGN VIRTUR - the theory and practice of Equality.Julgo que ele tenta reconciliar a liberdade com a igualdade. Verei se há motivos para ter esperança.

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  2. Muito rapidamente permito-me concluir que, de acordo com o Dr. Seguro, se ainda só estamos à beira da crise de regime, com ele vamos certamente cair nela.

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