Esteban Vicente - Matices del rojo (1986)
Matizemos a dolorosa experiência social que estamos a viver para pensar sobre a realidade de Portugal. Tomemos como boa uma sociedade mais liberalizada. O que significará uma sociedade mais liberal? Significará que será constituída por indivíduos que gerem as suas vidas de forma mais racional e fazem escolhas mais sensatas tendo em conta o futuro. Significa ainda que esses indivíduos estarão mais predispotos para a iniciativa e serão mais capazes de a tomar e de sustentar os seus projectos persistentemente no futuro.
Ora, tendo estas ideias em consideração, como poderemos descrever a nossa sociedade? É uma sociedade com muito pouca apetência para um regime de vida liberal. É uma sociedade composta por largas camadas de população muito frágil, sem as competências sociais e simbólicas exigidas por um modo de vida assente na racionalidade liberal. Traduzindo: muitas pessoas dependentes, pouco espírito de iniciativa, um uso frágil da razão. Este é o principal problema do país.
Perante esta situação que caminhos se podem tomar? Há no essencial dois caminhos disponíveis para o ajustamento da sociedade portuguesa. Um caminho é aquele que o governo e a troika estão a pôr no terreno. O essencial deste caminho é reduzir as funções sociais do Estado, abandonando a população à sua sorte. A ideia reguladora da acção do governo é a do Estado mínimo, reduzido às funções de segurança (interna e externa) e justiça. Um segundo caminho é o da utilização do Estado social como motor do fomento da liberdade individual. Como? Através dos sistemas de solidariedade e protecção, que dão um módico de confiança às pessoas, e de educação, que deverá ser cada vez mais exigente na formação de indivíduos racionais e livres, dotados de competências sociais e simbólicas que lhes permitam ter iniciativa e capacidade para gerir a sua vida e a das comunidades de forma racional.
Estes dois caminhos excluem-se. O primeiro, o do governo, terá resultados mais rápidos que o segundo. Os resltados do primeiro, porém, serão devastadores e em vez de criarem uma sociedade mais liberal criarão uma sociedade menos livre e com menos iniciativa, porque mais pobre, mais insegura e mais desprotegida e muito mais desigual. Haverá uma massa enorme de gente impotente e dependente da caridade. No segundo caso, os indivíduos terão mais tempo para se ajustarem e adquirirem as competências sociais que a liberdade e uma sociedade liberal lhes exigem.
Contrariamente ao que pensam os nossos pseudo-liberais, uma sociedade verdadeiramente liberal só pode emergir em Portugal se o Estado não se demitir das suas funções sociais. Contrariamente ao que se defende à esquerda, o Estado social não visa, fundamentalmente, a igualdade e a solidariedade entre os cidadãos. Contrariamente ao que se pensa à direita, o Estado social não é inimigo da liberdade. O Estado social visa construir uma sociedade de cidadãos livres e racionais, capazes de autonomia e iniciativa. Há assim que encontrar caminhos criativos de ajustamento e matizar as leituras ideológicas dominantes. Há que ser muito claro: a actual política não destrói apenas o Estado social. Destrói a liberdade, destrói a capacidade de iniciativa, destrói, em suma, a possibilidade de uma sociedade liberal.
Ora, tendo estas ideias em consideração, como poderemos descrever a nossa sociedade? É uma sociedade com muito pouca apetência para um regime de vida liberal. É uma sociedade composta por largas camadas de população muito frágil, sem as competências sociais e simbólicas exigidas por um modo de vida assente na racionalidade liberal. Traduzindo: muitas pessoas dependentes, pouco espírito de iniciativa, um uso frágil da razão. Este é o principal problema do país.
Perante esta situação que caminhos se podem tomar? Há no essencial dois caminhos disponíveis para o ajustamento da sociedade portuguesa. Um caminho é aquele que o governo e a troika estão a pôr no terreno. O essencial deste caminho é reduzir as funções sociais do Estado, abandonando a população à sua sorte. A ideia reguladora da acção do governo é a do Estado mínimo, reduzido às funções de segurança (interna e externa) e justiça. Um segundo caminho é o da utilização do Estado social como motor do fomento da liberdade individual. Como? Através dos sistemas de solidariedade e protecção, que dão um módico de confiança às pessoas, e de educação, que deverá ser cada vez mais exigente na formação de indivíduos racionais e livres, dotados de competências sociais e simbólicas que lhes permitam ter iniciativa e capacidade para gerir a sua vida e a das comunidades de forma racional.
Estes dois caminhos excluem-se. O primeiro, o do governo, terá resultados mais rápidos que o segundo. Os resltados do primeiro, porém, serão devastadores e em vez de criarem uma sociedade mais liberal criarão uma sociedade menos livre e com menos iniciativa, porque mais pobre, mais insegura e mais desprotegida e muito mais desigual. Haverá uma massa enorme de gente impotente e dependente da caridade. No segundo caso, os indivíduos terão mais tempo para se ajustarem e adquirirem as competências sociais que a liberdade e uma sociedade liberal lhes exigem.
Contrariamente ao que pensam os nossos pseudo-liberais, uma sociedade verdadeiramente liberal só pode emergir em Portugal se o Estado não se demitir das suas funções sociais. Contrariamente ao que se defende à esquerda, o Estado social não visa, fundamentalmente, a igualdade e a solidariedade entre os cidadãos. Contrariamente ao que se pensa à direita, o Estado social não é inimigo da liberdade. O Estado social visa construir uma sociedade de cidadãos livres e racionais, capazes de autonomia e iniciativa. Há assim que encontrar caminhos criativos de ajustamento e matizar as leituras ideológicas dominantes. Há que ser muito claro: a actual política não destrói apenas o Estado social. Destrói a liberdade, destrói a capacidade de iniciativa, destrói, em suma, a possibilidade de uma sociedade liberal.
A meu ver, o Estado Social sem liberdade, solidariedade e igualdade, sendo que está última terá um sentido mais flexível, é uma impossibilidade óbvia.
ResponderEliminarAs soluções intermédias, tipo terceira via, constituíram um flop e apenas serviram para agravar a situação.
Abraço
Julgo que o problema da terceira via foi de não ser uma terceira via, mas a via da senhora Thatcher sob governação trabalhista. Foi uma rendição e uma capitulação.
EliminarAbraço
Há no seu raciocínio um vício que tem feito o seu caminho na sociedade e é com esse truque que esta gente tem estado a jogar. Pressupõe que há um 'bolo', digamos assim, que é fixo e determinado e que pode ser usado ou para:
ResponderEliminar1. distribuir em funções sociais ou distributivas ou
2. usar em investimentos públicos que gerem emprego, digamos assim.
Como o ponto 2 está fora da ideologia liberal, aplica-se o ponto 1. E, como o 'bolo' é cada vez menor, há que baixar os apoios sociais.
Ora as coisas, de facto, não são assim. Se calhar vou escrever sobre isso hoje. É que as coisas não são assim porque o 'bolo' não é fixo. O 'bolo' é função de variáveis que não são independentes entre si. Uma das variáveis que contribui para o bolo é o número de pessoas a quem se deveria prestar apoios. Essa variável actua pelo lato da subtracção. E há outra variável que é a das pessoas que contribuem que actua pelo lado da adição.
A estupidez deste governo é que optou pelo cenário 1, digamos assim. Mas actuou estupidamente pois, por um lado, aumentou o número de pessoas supostamente beneficiárias e cortou do lado das que contribuem (pois diminuiu-lhes o rendimento e retirou-as do mercado de trabalho).
Por isso, em minha opinião, a solução passa por uma solução mista mas, seja qual a dosagem do cenário 1 ou do cenário 2, tem que ser bem feito e não com os pés. O que estes sujeitos estão a fazer é criminoso porque estão a inviabilizar qualquer saída.
A ver se desenvolvo isto.
Não sei se consegui explicar a minha opinião...
Confesso que não pensava em qualquer "bolo" fixo ou móvel. Estava a referir apenas uma ideia geral, a do papel do Estado na constituição de uma sociedade liberal. Queria salientar que num país como Portugal não é possível (por motivos históricos e sociais) constituir uma sociedade liberal sem a intervenção social do Estado. Isto nem é novidade. A Alemanha é um exemplo muito claro disso. O programa ordoliberal de Eucken e da escola de Friburgo tratou de liberalizar a Alemanha do pós-guerra, a Alemanha de Adenauer. Contudo, esta liberalização foi sempre acompanhada pela presença do Estado Providência. O meu ponto não é tanto económico (não sou economista) mas filosófico. Independentemente do tamanho do "bolo", não me parece possível uma sociedade liberal decente sem um Estado social que a promova e dê podere aos indivíduos. Quanto ao aspecto keynesiano que coloca, julgo que faz parte da solução dos problemas em que estamos metidos. Também estou de acordo com outra questão. É preciso que as coisas sejam bem feitas e rigorosas (como os alemães as fizeram).
EliminarConcordo plenamente com este seu post. Estes governantes não sabem nada da
ResponderEliminarrealidade deste país, apenas querem destruir...destruir...destruir...
Pensam que depois podem construir um novo país...Não podem!!!
E a agravar a situação, temos um Presidente da República parolo, provinciano,
conivente...e como estão quase todos a ir embora...querem destruir o máximo no
tempo que lhes resta.
Voltarei sempre que possa.
Saudações
Irene Alves
Tem toda a razão, querem destruir o máximo possível e o PR é vergonhosamente cúmplice desta destruição.
EliminarMuito obrigado, pela visita.
Cumprimentos