Nos últimos dias assistimos a uma reviravolta no
enredo da tragicomédia da crise das dívidas soberanas. Os alemães
decidiram apontar o dedo ao FMI, ao BCE e, acima de tudo, à Comissão
Europeia, em especial a Durão Barroso. Segundo os responsáveis alemães,
não só os programas estão mal desenhados pela troika, como a
Comissão Europeia é demasiado rígida no cumprimento de certas regras.
Serão então os alemães nossos amigos? Para responder a esta questão,
devemos perguntar se a posição crítica alemã se refere a questões de
método ou a questões de substância.
A posição alemã diz respeito ao método das políticas de austeridade e
não ao conteúdo. Para os alemães a metodologia está errada pois
desincentiva o investimento e o crescimento económico. O conteúdo,
todavia, está correcto. Qual é o conteúdo? Trata-se fundamentalmente do
ajustamento da economia à situação global em que vivemos. Ajustamento é
uma metáfora terrível. Nessa palavra nós pensamos que alguma coisa se
adequa a outra (que a economia dos países periféricos se adequa à
economia global) e, ao adequar-se, torna-se justa. Por trás de todo este
drama, há uma ideia de justiça muito peculiar. É justo aquilo que está
de acordo com a verdade do mercado global.
Qual a verdade do mercado global? Em termos gerais – pois a
realidade nunca é a preto e branco – o trabalho industrial (do têxtil à
metalurgia, etc., etc.) é produzido em lugares onde a desregulação do
mercado de trabalho permite situações de quase escravatura. O trabalho
altamente especializado e que necessita de grande incorporação
técnico-científico está bem guardado nas grande potências, entre elas na
Alemanha. Se há uma coisa que aprendemos em Portugal, neste últimos
anos, é que, do ponto de vista económico, não é relevante o investimento
feito em educação técnico-científica da população, se não há empresas
que absorvam as novas gerações altamente qualificadas.
O que resta para os países periféricos da Europa (do sul, mas não
só)? Resta ajustarem-se e competirem com os paraísos de mão-de-obra
quase escrava. Resta desregularem completamente o mercado de trabalho e
eliminar os direitos sociais dos seus cidadãos. Nisto, a Alemanha não
retrocede. E não retrocede porque não vai, obviamente, ceder as suas
empresas altamente especializadas a outros países. Por outro lado, não
apenas a Alemanha está a tirar proveito financeiro das crises dos países
do sul, como tem nestes um reservatório de mão de obra especializada,
formada à custa desses países, para as suas empresas. Este é o
verdadeiro sentido do ajustamento e da contestação alemã à troika.
Ainda atordoado pelas diferenças, apenas se me oferece dizer que a Sudoeste nada de novo.
ResponderEliminarAbraço
Não, parece que há por aí umas certas palhaçadas para animar a plebe.
EliminarAbraço