quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Papa e o Primeiro de Maio

Horacio March - Fábricas (1933)

O título que me espantou no dia da tragédia do Bangladesh foi ‘vivem com 38 euros por mês’. Era o que recebiam as pessoas que morreram [402 mortos, até agora, ainda 149 desaparecidos]. É o que se chama trabalho escravo. (Papa Francisco)

Talvez o acontecimento mais importante deste Primeiro de Maio tenha sido as declarações do Papa. É clara a posição que ele entendeu tomar neste dia, friso: neste dia. Não foi só a escravatura no Bangladesh, foi também a denúncia de uma visão económica da sociedade fundada no lucro egoísta, para além das regras de justiça social. Não sei como é que aqueles que apoiam os partidos que estão no poder em Portugal reagem à posição do novo Papa. Uma coisa, contudo, parece evidente. Ou os cardeais conservadores da Igreja Católica decidiram, com a ajuda do Espírito Santo, claro, eleger um perigoso esquerdista, ou o extremismo radical das elites financeiras e dos seus valetes governativos foi tão longe que mesmo a velha e cautelosa hierarquia católica não pode ficar calada perante as políticas imorais impostas pelas elites financeiras. 

Sei perfeitamente que a política e a moral são duas coisas completamente diferentes. No entanto, é preciso dizer que as actuais opções políticas e económicas são imorais, ofendem o senso de justiça com que os homens são providos pelo facto de serem dotados de razão. É preciso que o discurso vigente no mundo seja mostrado naquilo que ele tem de ofensivo à dignidade dos homens, que as opções a que os governantes se entregam, na sua falta de vergonha e na sua cobarde dependência dos poderosos, sejam mostradas na sua radical imoralidade, para que a legitimidade destas políticas seja destruída e elas sejam abandonadas. Certamente que o Papa não será um radical. Parece ser uma pessoa sensata e equilibrada. E é essa sensatez e equilíbrio que torna a sua voz importante e uma preciosa ajuda para todos aqueles que são vítimas de uma economia que deixou de servir a humanidade.

2 comentários:

  1. Até eu, um céptico compulsivo, estou em perfeita sintonia com a afirmação do Papa.
    A política é amoral, mas a moral tem de ser política. Digo eu...

    Abraço


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    1. Completamente de acordo, a moral tem de ser política.

      Abraço

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