Caspar David Friedrich - Woman with Candlestick (1825)
Há dias, numa deambulação por blogues de gente ligada à filosofia, deparei-me com um post que verberava aqueles que na filosofia trocavam o argumento lógico, fundado em conceitos claros, pela metáfora. O autor, orgulhoso do seu entendimento e seguindo uma corrente agora muito em voga em Portugal, reduzia a actividade filosófica ao exercício do cálculo lógico das proposições. Mas será esse o papel do filósofo? Será a filosofia um jogo de troca de argumentos logicamente concatenados e fabricados a partir de conceitos claros e distintos?
Ao olhar para o quadro de Caspar David Friedrich percebo dois níveis. Num dos níveis, vejo uma realidade iluminada. A luz permite que eu pense e produza um conjunto de teorias sobre aquilo que a luz deixa ver. Mas se fico a olhar longamente o quadro começo a perceber que a outra parte, aquela que permanece na obscuridade, dá muito mais que pensar. Porque é obscura, o pensamento hesita, tem dificuldade em dominá-la. É aqui que intervém a metáfora. Ela é a primeira resposta àquilo que dá que pensar, é uma luz ténue perante a obscuridade, o primeiro sintoma de um desejo de saber. E não é a filosofia, como a etimologia não cessa de recordar, esse desejo de saber?
Desde sempre que a relação entre metáfora e conceito filosófico foi atribulada. Contudo, o que toda esta gente, embevecida com a clareza lógica, não percebe é que os conceitos filosóficos fundamentais, com os quais se fabricam problemas e se organizam teorias, são metáforas, umas vivas e outras mortas. Todo o exercício da razão é feito sobre o fundamento da imaginação. Reivindicam, ufanos, a sua actividade como científica, não percebendo que não passam de maus poetas.
A Filosofia é para mim um "mistério". Reconheço.
ResponderEliminarMas creio que não saberia pensar sem recorrer à metáfora.
Abraço daqui, sem frio e com um sol "do sul".
Em filosofia a metáfora - isto é, a poesia - suscita reacções desencontradas. Isto começou logo com Platão. Originariamente, ele era um jovem poeta trágico. Sócrates, porém, impôs-lhe que rasgasse as tragédias. E ele, para seguir Sócrates, rasgou-as. O problema é que os diálogos, apesar de conterem um aparato lógico, recorrem inúmeras vezes à ficção. Os principais conceitos não deixam de ser metáforas. Em resumo, quando a metáfora é expulsa pela porta principal logo entra pela das traseiras.
EliminarBoa estadia por esse norte com sol
Muito obrigado pela lição.
ResponderEliminarAinda bem que a metáfora (re)entra, seja pelas traseiras ou até por uma qualquer janela.
A luminosidade deste sol faz com que me sinta em casa e "estou mesmo".
Bem, não se trata propriamente de lição mas de troca de informação.
EliminarAbraço
Será. Mas nesta troca, como gentilmente lhe chama, eu fico altamente beneficiado.
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