terça-feira, 16 de abril de 2013

O difícil caso da Venezuela

Diego Rivera - La constante renovación de la lucha revolucionaria (1926-27)

A situação na Venezuela está a tornar-se perigosa. O chavismo sem Chávez tem pela frente dias muito difíceis, com um país completamente polarizado e retóricas incendiárias de parte a parte. Há no chavismo qualquer coisa de profundamente anacrónico. Toda a retórica revolucionária parece deslocada, quando o necessário seria políticas de consolidação da iniciativa das pessoas, de fortalecimento dos mais frágeis. O Brasil, por exemplo, soube muito bem evitar o escolho da inflamação revolucionária, construindo de facto um conjunto de políticas que trouxeram para as classes médias largas camadas da população mais pobre. A vitória tangencial de Maduro parece o prenúncio do fim dos sonhos revolucionários do chavismo. Por outro lado, o Presidente agora eleito não parece ter qualquer preparação nem para o cargo nem para enfrentar a complexa situação em que o país se encontra. Na verdade, Lula da Silva, o lectricista que chegou a Presidente, é excepção e não a regra. Veremos se a Venezuela, apesar de todo o charivari bolivarino, não vai ser o lugar onde uma nova onda de liberalismo puro e duro vai emergir para tornar a sufocar a América Latina.

4 comentários:

  1. O Chavismo foi em si mesmo um fenómeno que não teve comparação na América Latina e provocou sucessivas e contraditórias reacções do grande vizinho do norte.
    Creio que só os pobres e humilhados da Venezuela é que o souberam compreender e talvez por isso votaram no motorista Nicolas Maduro em vez de escolher o Advogado ultra-liberal e aglutinador de toda a direita,desde a fascista à conservadora, Henrique Capriles.

    Se tiver tempo e paciência, atrevo-me a sugerir a leitura destes postes:

    http://bonstemposhein-jrd.blogspot.pt/search/label/Hugo%20Chavez

    Abraço

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    1. As várias interpretações feitas do chavismo nos EUA e as múltiplas reacções que se têm nesta lado do Atlãntico estarão ligadas, por certo, à incompreensão que se tem da terrível tragédia que a colonização espanhola - mais até que a portuguesa - deixou na América Latina.

      O que me parece, porém, é que está esgotada um certo tipo de retórica usado pelo chavismo. A Venezuela está partida ao meio, o chavismo perdeu adesão, mas isso parece-me apenas um momento de passagem antes de se entregar nas mãos dos liberais. Aliás, este tipo de discurso de Maduro é sintoma já de uma certa fraqueza. A coisa não me parece que vá acabar bem.

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  2. Estou de acordo com o que diz sobre a herança da colonização castelhana.
    Também experimento algumas dúvidas sobre a capacidade do "delfim", mas sou de opinião de que a opção liberal seria sempre pior.

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    1. Certamente que seria. Há um fenómeno interessante e que merece ser pensado. Como é que um conjunto de políticas de esquerda, políticas que tiveram sucesso e retiram as pessoas de uma situação miserável, acabam por conduzir ao momento em que essas pessoas, adquirindo uma nova e ilusória consciência, passam a votar à direita. Isso já se passou na Venezuela, já se passou em Portugal (os votos que foram directos do PC para Cavaco Silva) e julgo que em breve se irá passar no Brasil.

      Abraço

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