Juntamente com a saúde, a educação é uma área muito
sensível às políticas de classe. Ao olharmos as transformações por que
tem passado, percebe-se como a questão da classe social é o critério
definitivo e último, embora sempre ocultado, das opções políticas das
várias governações. A drástica redução salarial dos professores não é
apenas motivada por dificuldades de tesouraria. Ela deve-se a um juízo
social fundado num preconceito de classe. O prestígio social da classe
docente estava intimamente ligado à escassez e limitação de classe dos
alunos. Quando os estudantes eram poucos e pertenciam a estratos
superiores, os professores eram recrutados nas classes médias e as
elites dirigentes defendiam o ensino público, de que eram beneficiárias,
e o prestígio social dos professores.
A desvalorização actual da carreira docente tem uma dupla motivação.
Por um lado, visa preparar a transferência da escola pública para
empresas privadas, dando o dinheiro público não aos professores mas aos empresários.
Há muita gente desejosa de colocar o dinheiro da educação no bolso de
particulares, degradando ao máximo a docência e a qualidade do ensino. A
segunda motivação deriva do referido preconceito de classe. A
escolaridade obrigatória trouxe para a escola públicos que, segundo esse
preconceito oculto, não interessam. A igualdade de oportunidades é uma
figura retórica para usar em maré de eleições, ao mesmo tempo que se
obsta a que os alunos das classes mais desfavorecidas – e em Portugal
elas são incalculavelmente grandes – acedam efectivamente a um ensino de
qualidade. É gente que, para os poderes sociais, não interessa e que
não deve concorrer com os filhos das elites para a entrada nas boas
universidades nem, posteriormente, para os bons empregos, que são
escassos.
Também o professorado provém cada vez mais de classes sociais
baixas ou de parco capital simbólico, de sectores que não se cruzam com
as elites dos vários poderes. Estas não sentem qualquer obrigação
perante gente desconhecida e de baixa extracção. Somando alunos
que, por motivos de classe, não interessam, professores que não
pertencem ao círculo próximo dos poderes e a voracidade dos empresários
pelo dinheiro da educação, está construído o caldo motivacional para a
contínua degradação da escola pública e da profissão docente. Teoria da
conspiração? Não, apenas consequências da lógica com que o sistema é
gerido politicamente. Em Portugal sempre as elites se afirmaram pela
rapina da gente pequena, à qual continuamente se rouba qualquer
possibilidade de o deixar de ser.
Há muito que as elites (?) que dirigem o país, consideram os professores como uma classe a desgastar, porque sabem que a educação pode pôr em causa os seus privilégios.
ResponderEliminarBom fim-de-semana
Abraço
É uma questão de defesa de casta, num mundo que é o que é.
EliminarBom fim-de-semana.
Abraço