Anónimo chinês - Exames em ciência militar
O homem santo não acumula bens.
Quanto mais faz aos outros tanto mais tem
para si;
quanto mais dá aos outros tanto mais é em
si.
O curso do céu beneficia sem prejudicar;
O curso do homem santo atua sem disputar.
Lao Tse, Tao
Te King, LXXXI
Fora um
antigo combatente. Entrara para o exército ainda muito novo e fizera, múltiplas
vezes, a guerra. A morte dormiu ao seu lado centenas de noites e sorria-lhe
quando se levantava, mal o Sol despontava
na madrugada. Conheciam-se bem. Ele observara-a a actuar inúmeras vezes.
Espantava-o sempre como ela se orientava na balbúrdia do campo de batalha, como
era precisa na escolha dos que elegia para que a acompanhassem ao reino das
sombras. Vira-a muitas vezes caminhar direito a si, para se desviar no último
instante, escolhendo outra vítima para a sua sede insaciável. Olhava-a
também quando saía das suas armas e se dirigia para o campo inimigo para colher os
frutos amadurecidos para a viagem. Respeitava-a e temi-a, sentia admiração.
Admirava-a
na isenção e na independência, na distribuição da dor e na secreta precisão com
que administrava o seu reino. Um dia, em tempo de paz, estando a meditar sobre
os seus encontros com a velha ceifeira, percebeu que já não a temia. Foi uma
iluminação. Agora que o temor, silencioso e secreto que ardia no fundo de si, fora
debelado, compreendeu que não tinha sentido servi-la. A guerra, a luta,
qualquer conflito, ínfimo que fosse, perdera o sentido. Abandonou o exército e
começou uma longa itinerância. Aprendera muito, nas guerras em que participara,
sobre a vida e os homens. Munido desses conhecimentos, procurou os lugares mais
pobres e as gentes que aí viviam. Sentia muitas vezes, nesses lugares, o odor
da velha companheira, mas não ficava impressionado. Ajudava quem precisava,
dava-lhes conselhos, se lhos pediam, e trabalhava com a força dos seus músculos
e a inteligência treinada para resolver as mais difíceis situações.
Quando os
homens lhe agradeciam ou tentavam pagar-lhe, dizia-lhes, ele que viera de uma
família aristocrática, que era um deles e que estava ali para os servir. Bastava
que aprendessem com ele a manter uma casa, a abrir um caminho, a cuidar das
crianças e dos animais. Fundamentalmente, que evitassem a guerra e os conflitos
entre eles. O mundo ficaria agradecido e ele sentia-se pago pelos pequenos
gestos. Os dias e os anos foram passando, mas ele não mais abandonara a vida
que escolhera. Não pedia nada, não pregava a salvação do mundo, não tinha nada
para vender. A voz perdera o tom de comando com que nascera e era agora um rio
tranquilo. O corpo continuava robusto como nos velhos dias, mas o rosto
tornara-se imune aos efeitos do tempo. Olhavam-no e não sabiam se ele era muito
jovem ou terrivelmente velho. Ao primeiro contacto, ficavam um pouco temerosos,
mas mal ouviam a sua voz uma luz silenciosa iluminava-os. Era um deles.
Foi necessário optar pela demissão para encontrar o caminho que revela o espírito de missão. O verdadeiro!
ResponderEliminarAbraço
É verdade, não tinha pensado nessa relação lexical entre demissão e missão.
EliminarUm boa semana.
Abraço