A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
As novas gerações de políticos europeus parecem não
ser muito diferentes entre si. Não me estou a referir ao malfadado caso
de um político da virtuosa Holanda fascinado com uma habilitação
académica que não possuía, ou a história de certa ministra da não menos
virtuosa Alemanha acusada de plágio na tese de doutoramento. Coisas
parecidas também são conhecidas por cá. Na verdade, não é daí que vem o
pior dos males. Verdadeiramente trágica é a abolição do conhecimento
profundo da história nacional e mundial do currículo formativo dos
políticos. Durante muito tempo, a racionalidade política via a história
como o laboratório onde, juntamente com a filosofia política, se
aprendia a arte da governação.
Isto vem a propósito do conflito em torno das reparações de guerra
que os alemães parecem não ter pago aos gregos. Contrariamente ao que se
pode pensar, o essencial da reivindicação grega não reside no dinheiro,
mas na recordação da culpabilidade dos agora virtuosos alemães. A
chegada ao poder, na Alemanha, das gerações nascidas depois da guerra
está a ter um efeito de amnésia histórica, e os gregos, desesperados
pelas imposições do calendário eleitoral e pelo oportunismo económico
alemães (financiamento com taxas de juro negativas à custa do desespero
do sul da Europa), foram obrigados pela opinião pública a trazer a
história para dentro do debate das políticas europeias.
A substituição da história e, em certa medida, da filosofia
política pela economia, uma economia que também ela evacuou a história,
tornou a governação num exercício sem memória e sem capacidade para
reflectir sobre as consequências das decisões tomadas. Não é que a
história e a filosofia política tornem os políticos de direita em
políticos de esquerda ou vice-versa. O que acontece é que um profundo
conhecimento da história e uma atenção à filosofia política introduz
elementos de moderação e de ponderação das consequências das políticas
adoptadas. Ao substituir todo esse velho programa formador das elites
governativas pela atenção exacerbada à economia política, substituiu-se a
experiência de séculos pelo experimentalismo ideológico travestido de
ciência económica. As consequências disto estão à vista por toda a
Europa, onde milhões desesperam, a economia se retrai, a legitimidade
democrática é abalada todos os dias e a malfada história, com o seu
cortejo de culpas e horrores, que se expulsou pela porta principal
retorna pela porta de serviço, depois de viajar incógnita no
monta-cargas. A história é uma deusa terrível e vindicativa.
Aqueles que se especializaram na arte de cavalgar os povos a toda a sela, serão "cuspidos", mais cedo ou mais tarde, quando esses povos lhes disserem: É a História, estúpidos!
ResponderEliminarBom fim-de-semana
Abraço
Não sei, não. A História é uma amante muito infiel.
EliminarBom fim-de-semana.
Abraço