A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
O Papa Francisco ama os pobres mas parece não gostar da pobreza, acha
que os poderes do mundo deveriam eliminá-la. Francisco, porém, é um jesuíta, e há
que desconfiar dos jesuítas. Intelectuais, muitas leituras, cursos superiores
em demasia. Saber filosofia e teologia dá a volta ao miolo das pessoas. Em
Portugal, nós temos um homem muito mais radical do que Francisco. Claro que
esse homem é pouco mais que inculto, apesar de ter um curso superior. Ele não só ama os pobres como adora a
pobreza. Gosta tanto dos pobres que não quer que eles diminuam. Pelo contrário,
faz tudo o que está ao seu alcance para aumentar o número dos que têm
oportunidade para ser pobres.
Desde que chegou à governação, Passos Coelho tem-se batido com denodo
e valentia para que a pobreza alastre no país. Desse ponto de vista, é um
excelente governante, ainda melhor que o anterior, o retornado Sócrates. Sócrates
fazia crescer os pobres mas tinha má consciência. Passos Coelho, não. Adora o
que faz. Imagine o leitor que Passos Coelho tinha feito um orçamento do Estado
inconstitucional. Toda a gente gritava que era inconstitucional, mas Passos
Coelho fingia que não ouvia e persistia no caminho. Um homem teimoso e com pouca
cultura jurídica, dirá o leitor. Talvez, mas fundamentalmente Passos Coelho
apresentou aquele orçamento para que fosse chumbado. Não foi por maldade, mas
por amor aos pobres e à miséria.
Estou a exagerar? O normal seria, perante o chumbo das normas inconstitucionais,
que um primeiro-ministro que não gostasse de pobreza dissesse que iria pensar
como resolver o problema encontrando respostas equilibradas que distribuíssem o
mal – mal que ele causara com um orçamento deficiente – por todas as
freguesias, pagando as mais ricas um pouco mais que as outras. Contudo, Passos
Coelho ama os pobres e a pobreza e viu no chumbo do orçamento uma janela de
oportunidade, que ele próprio criara com a sábia inclusão de normas inconstitucionais.
Veio no domingo à televisão e disse que já ordenara cortes na saúde, educação,
segurança social e empresas públicas. Estas medidas significam o quê? Um acto
de amor aos pobres. Com elas, Passos Coelho vai concretizar o seu sonho de
amante da pobreza. Torna os actuais pobres ainda mais desvalidos e cria mais
umas centenas de milhares de novos pobres. O chumbo do Constitucional veio
mesmo a calhar. Passos Coelho já acendeu uma vela de agradecimento na capela do
palácio Ratton. Não vai faltar em Portugal pobres e miséria para que Passos
Coelho possa derramar o seu virtuoso amor à pobreza. Pobreza dos outros, claro.
Passos Coelho "ama" tanto os pobres, que quer aumentar a pobreza, logo, é mais papista do que o Papa.
ResponderEliminarBom fim-de-semana
Abraço
Desde que assumiu a governação que sempre mostrou ser mais papista que o Papa e mais troiquista que a troica... Ser mais... é para Passos Coelho um destino, para nós um Karma negativo.
EliminarBom fim-de-semana.
Abraço
Lembra-se? Antes eu questionava-me se seria burrice ou algo de premeditado. Agora, ao fim deste tempo todo, o meu dilema passou a trilema: será que aquele(s) sujeito(s) não padece(m) de alguma perturbação grave de personalidade, alguma doença do foro mental?
ResponderEliminarTalvez não haja trilema, apenas a conjugação dos três factores que se intensificam uns aos outros até que a situação elevada ao paroxismo acabe por explodir.
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