sexta-feira, 10 de maio de 2013

Paulo Portas


O chefe do CDS-PP é uma lição viva daquilo que constitui a verdadeira natureza da política. Ele não é estruturalmente diferente dos outros políticos, mas é muito mais inteligente e eficaz na prossecução dos seus objectivos. O Dr. Portas consegue a coisa extraordinária de estar comprometido com a política deste governo até à ponta dos cabelos, e passar para a opinião pública a ideia de que é uma espécie de oposição no interior do governo às maldades deste. Ele faz parte do grupo de pessoas que toma as decisões que estão a destruir Portugal, mas dá o ar que não é responsável por tamanhas malfeitorias. 

O 25 de Abril intensificou nos portugueses uma terrível ilusão que já vinha do salazarismo. Pensam que o fundamental da acção de um político é servir o país e os cidadãos. Esta é a pior das ilusões. Um político só ambiciona uma coisa, o poder. Toda a sua acção visa conquistar e manter o poder, custe o que custar. Salazar sabia-o muito bem, assim como os políticos da democracia, de Soares a Cavaco, de Cunhal a Sá Carneiro, de Durão Barroso a Sócrates e por aí fora. Se por acaso fazem obra que sirva as pessoas, isso deve-se apenas à necessidade de manter o poder e não por amor às pessoas. Na política não há amor ao próximo, nem devoção ao bem público, nem serviço à comunidade. Há o poder. Todo o resto é acessório e instrumental. 

O comportamento aparentemente bipolar de Paulo Portas é, deste modo, explicado facilmente. O que está em causa, na sua acção de distanciamento do governo relativamente ao agravamento das contribuições sobre os reformados, não é o amor por estes ou preocupação com o seu sofrimento, mas pura e simplesmente o poder. Os reformados constituem um nicho do mercado eleitoral muito grande, talvez o maior grupo social do universo eleitoral. É desse grupo que Paulo Portas espera o apoio para que, no futuro, se possa manter no poder, coligado com o PSD ou com o PS. 

Tenho visto muita indignação mal disfarçada por parte dos apoiantes de Passos Coelho. Queixam-se da desonestidade de Portas, da sua deslealdade, do oportunismo do chefe dos centristas. Esqueceram já a campanha absolutamente mentirosa levada a cabo por Passos Coelho para chegar ao poder, esqueceram a desonestidade e o oportunismo das sua promessas eleitorais. Mas a única coisa de que se devem queixar é da natureza. Esta foi benévola com o Dr. Portas, pois deu-lhe uma inteligência que falta, e muito, noutros lados. Quanto ao resto, nada de novo sob o sol. É apenas a luta pelo poder e Paulo Portas não se esquece do que é essencial.

6 comentários:

  1. Disse o insuspeito professor Marcelo, que a Direita portuguesa é a mais estúpida da Europa.
    Não tenho dúvidas da razão que lhe assiste, mas no que respeita a Paulo Portas, a qualificação não se aplica. Ele é Inteligente e sobretudo esperto.

    Abraço

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    1. O problema de Portas é que utiliza a inteligência que generosamente lhe foi dada para ser esperto. Um desperdício de talento.

      Abraço

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  2. Muito bom... e tb os comentários. De facto, "um desperdício de talento". :)

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    1. O talento é uma coisa difícil de gerir na política portuguesa. Uns não o têm, outros deseperdiçam-no. A coisa só podia dar no que está a dar.

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  3. Nos tempos em que vivemos, e a meu ver, o conceito de político tem vindo a alterar-se a nível internacional. Este desenvolvimento, que se deve essencialmente à crise, trouxe algumas boas notícias, ainda que poucas, para a classe política. Dirigindo-me diretamente ao assunto, considero que atualmente existem alguns políticos que não ambicionam apenas o poder. Pode-se observar, até pela constituição do próprio governo português, que já existe uma certa preocupação (ainda que escassa) em "despolitizar", de forma a recrutar as elites tecnicamente mais qualificadas. Sendo a atual situação económica e financeira do país deplorável, interrogo-me se será o poder por si só, força suficientemente grande para mover o político a enfrentar tamanhas adversidades e desafios.

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    1. Não me parece que se estejam a recrutar as "elites tecnicamente mais qualificadas". Estão a ser recrutadas pessoas - como o foram em governos anteriores - que não fazendo carreira nos partidos políticos ambicionam a experiência do poder. Não há nenhuma despolitização, há outra forma de conceber a experiência política. Quanto às adversidades e aos desafios, estes são muito relativos do ponto de vista pessoal. A acção política é inimputável. Mesmo que se tomem más decisões, não há qualquer risco. A política é uma actividade relativamente protegida, ao contrário de outras.

      Por outro lado, quando afirmo que o que está em questão na acção política é o poder e apenas o poder, não há nisso uma avaliação mas uma constatação de facto. Os políticos lutam pelo poder e agem em conformidade com a possibilidade de o alcançar e de o manter. O resto é acessório, por mais causas que eles aparentem defender.

      Cumprimentos.

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