quarta-feira, 22 de maio de 2013

O Papa e o capitalismo selvagem

Joaquín Mir - Pobres (1899)

O Papa Bergolio, Francisco, parece não ter vocação para eufemismos. O que tem a dizer não o disfarça e, de uma forma clara e distinta, sabe traçar aquela linha vermelha que separa o bem do mal. Hoje, numa visita a uma instituição de caridade da Igreja Católica, não se coibiu de afirmar que "um capitalismo selvagem ensinou a lógica do benefício a qualquer custo, de dar para receber, o lucro sem olhar para as pessoas... e os resultados vêem-se na crise que estamos a viver". De uma forma clara, a Igreja Católica, talvez pela primeira vez na sua história, toma a questão da pobreza do ponto de vista do sistema que a produz. Os pobres não são apenas aqueles que necessitam do amor caritativo - embora, também precisem -, são agora, na linguagem do Papa, as vítimas de um sistema económico injusto e moralmente ínvio. 

A Igreja Católica não é uma instituição política e, por isso, a sua acção não é, nem deve ser, política. A Igreja, todavia, tem uma dimensão espiritual e moral. É seu dever denunciar e deslegitimar o mal, mesmo quando este se apresenta como uma potência organizada e dominadora do mundo. E o mal está nesse capitalismo selvagem, síntese orgânica do egoísmo e da avidez dos homens. Do ponto de vista social e político, estas intervenções do Papa Bergolio não deixam de ser cruciais, pois contribuem para tornar manifesta a repelência moral do sistema económico mundial e da ideologia que o sustenta, uma teorização justificativa do pior que há em nós. Para que seja possível parar a barbárie crescente, é necessário que as pessoas percebam claramente a maldade moral que se esconde no sistema económico mundial e nas políticas que o sustentam. O contributo do Papa Bergolio não é, por certo, dos menores.

4 comentários:

  1. Quantos Papas Franciscos vão ser necessários para denunciar e mudar o que dezenas de outros papas alimentaram hipocritamente?

    Abraço

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    1. Não foi apenas uma questão de hipocrisia, embora também o fosse. Foi uma questão de perspectiva, uma perspectiva que derivou da aliança do Império Romano, na parte final, com a Igreja. De outsider perseguida passou a insider perseguidora, muitas vezes. Julgo que a consciência clara de que a Igreja estava já fora do poder (radicalmente, fora do poder) só surge com Ratzinger. Bergolio parece instalar-se propositadamente fora dos poderes do mundo. Veremos o que vai acontecer...

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  2. Não é Bregolio, mas sim Bergoglio! E o nome dele é Papa Francisco, não Papa Bergoglio. Se se quer referir a Bergoglio chame-o de Cardeal Bergoglio, Papa Francisco.

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    1. Tem quase razão. De facto, não é Bergolio (não escrevi Bregolio) mas Bergoglio. Quanto ao resto, escrevo como me apetecer, independentemente do acordo ou não com o tratamento no interior da Igreja Católica. Estou certo que o Papa não ficará ofendido.

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