terça-feira, 28 de maio de 2013

O custo dos baixos salários

Isidre Nonell Monturiol - Abatimento (1905)

Há dias, motivada por uma troca de palavras, num programa televisivo, entre um jovem empresário de 16 anos e uma conhecida historiadora, a nação inteira foi confrontada com o dilema se valeria mais ganhar o salário mínimo ou estar desempregado. Os blogues incendiaram-se, a direita liberal aproveitou a oportunidade para achincalhar a historiadora (na verdade, ela tinha feito uma coisa imperdoável para os liberais, tinha  mostrado que o Estado Social era pago pela massa salarial dos trabalhadores e não pelos impostos), teceram-se loas aos jovens empresários. Todos ficaram com a consciência tranquila perante a existência de salários miseráveis.

Contudo, estas coisas têm um preço. Na verdade, o preço é pago por todos. O ano passado mais de metade das famílias (56,42%) não tinha rendimentos suficientes para pagar IRS. Temos assim dois problemas. Por um lado, a maioria das famílias está à beira da indigência, devido aos salários baixos. Por outro, o esforço pedido aos outros cidadãos é maior do que deveria. A estratégia dos baixos salários, que tanto entusiasma os nossos liberais empreendedores (muitos deles funcionários do Estado), é, de facto, uma dupla injustiça. Injustiça para quem trabalha e não se vê condignamente compensado e injustiça para aqueles que pagam impostos, que pagam por si e por aqueles que não podem. Há qualquer coisa que não funciona neste país.

6 comentários:

  1. Que nem de propósito...! Acabei de escrever sobre isso. Ou melhor, não directamente sobre isso, mas sobre o equívoco reinante que leva a supor que se enriqueça empobrecendo os outros. Ou que, tornando-nos todos mais pobres, melhoramos o país.

    O seu texto é perfeito, é isso mesmo. E o que está mal é o que explico no meu (ou melhor: tento explicar...)

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    1. Explica mesmo muito bem. Há só uma coisa que não partilho. Aquilo que se está a fazer não é feito por burrice. É uma opção ideológica, opção que pretende mesmo os resultados que está a obter. Talvez haja burrice em achar que o mundo deve ser assim, mas há gente para tudo, como se viu com o nazismo (não estou a insinuar nada), onde gente muito inteligente se entregava a todo o tipo de idiotices criminosas.

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  2. Pois é, é a minha dúvida desde o início: se isto é burrice apenas, se é intencional. Provavelmente é intencional mas, como não são inteligentes, fazem-no à bruta demais, sem disfarçar, com burrice. Nem sei.

    Só sei é que têm que ser corridos antes que seja tarde demais. Não é possível destruírem assim um pais e a vida de tanta gente. Alguma coisa tem que ser feita.

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    1. Alguma coisa tem de ser feita, é verdade. Mas parecemos impotentes perante uma catástrofe natural para a qual não há recursos que a enfrentem. Com exclusão da TSU, têm praticado impunemente todas as malfeitorias que têm desejado.

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  3. Neste país em desgraça, os baixos salários custam proporcionalmente aos brandos costumes.

    Abraço

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