sábado, 11 de maio de 2013

Poema 64 - Corpo perdido na sombra do deserto

Brull Carreras - Desierto de Atacama (Chile)

64. Corpo perdido na sombra do deserto

Corpo perdido na sombra do deserto,
um traço de angústia sob o sol,
o coração desfigurado no tumulto da manhã,
esperança de uma caravana que passa
e deixa no ar o húmus da vida.

Abriste o corpo ao látego do desejo
e tudo estremeceu sobre a terra,
a memória das coisas passadas,
poeira que cobria os últimos cactos,
o amor despedaçado nas dunas imóveis.

Houvesse ainda uma fonte em teu corpo
e os meus lábios abrir-se-iam para ti.
Sedentos, deixariam correr a água,
enquanto a areia branca e silenciosa
se cobria de erva sob o novelo da tarde.

4 comentários:

  1. (...)
    sobre a tua pura pele de pão, longe do bosque,
    nada há, a não ser as tuas linhas de segredo,
    nada, a não ser a tua fonte de areia,
    nada, a não ser as noites e os dias do homem,
    (...)
    Pablo Neruda (Atacama-Canto Geral)

    Estou certo de que o grande poeta gostaria de ler este belo poema, que fala do deserto "dele".

    Abraço

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  2. Belíssimo poema o seu e concordo que Neruda o apreciaria também!

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    Respostas
    1. Muito obrigado. Neruda foi um dos primeiro poetas que li - quero dizer, que li mais atento poeticamente -, o inevitável 20 canções de amor e uma canção desesperada. Perdi o rasto ao livro, entretanto.

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