Giorgio de Chirico - O vaticinador (1916)
66. Pobre e cego vaticinador
onde estão agora os teus vaticínios?
Levaram-te as entranhas dos animais
e, no céu, os pássaros não voam.
Perdeste a arte do augúrio.
O tempo tornou-se pedra espessa e fria,
e os teus olhos cobrem-se de neblina,
seja negra a noite ou claro o dia.
Grande era o teu império.
Um trono fundado no presente
e de lá afrontavas o que haveria de chegar,
as dores temidas, a alegria ansiada.
Adormeces, agora, no terror do passado,
e se ouves palavras nos teus sonhos,
são barcos carregados de cinza
que entram no porto extraviados.
Um rosto de água vacila no horizonte,
caminha para ti rodeado de escassez,
e estende as mãos metálicas
para os teus olhos cegos, exaustos de futuro.
Um Tirésias cansado. Uma beleza, Jorge, e é particularmente feliz o último meio verso "exaustos de futuro". Como todos, até como os de Cassandra que não eram cegos.
ResponderEliminarObrigado, Ivone. Acho que estamos todos exaustos de futuro.
EliminarUm belo -triste- poema.
ResponderEliminar"Viver sempre também cansa" e o mundo não se modifica...
Abraço
Obrigado, JRD. O que cansa não é que o futuro nos traga a morte. Isso faz parte do jogo. O que tornou cansativo o futuro foi que dele só se pode esperar o pior. A aniquilação da esperanção. Não, o pior foi a confiscação da esperança por parte de um pequeno grupo.
EliminarAbraço