Alfonso Parra Domínguez - Realidad dialéctica (1978)
O deus é dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, saciedade e fome. Ele muda como quando se põe um perfume. Então, dá-se-lhe o nome conforme o odor. (Heraclito, Fragmento 67)
Na vida das sociedades, apesar da longa experiência histórica abundantemente documentada, há um estranho enigma. Esse enigma diz respeito à cegueira com que os homens arrastam, e se deixam arrastar, o mundo para situações de desquilíbrio, crendo, nesse momento, aqueles que parecem ser os vencedores e os condutores da História, que são invencíveis e que apenas a vitória da sua causa e dos seus interesses será sufragada pelo futuro. Hoje vivemos um tempo em que os poderosos - quero dizer os muito ricos - agem como se o mundo fosse deles e que assim será por toda eternidade. O doce e frágil equilíbrio que se viveu em alguns lados do planeta não os interessa e conduzem as coisas de forma impiedosa, como se a razão estivesse do seu lado.
Estão cegos. Não sabem, como o sabia Heraclito, que o deus é dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, saciedade e fome. Julgam que o seu dia será eterno, mas chegará a hora em que a noite se abaterá sobre eles, e aqueles que vivem agora um frio e insensato inverno, exigirão a saciedade, nem que para tal recorram à guerra. O desequilíbrio que agora faz de uns senhores e de outros escravos será substituído por um novo desequilíbrio. Como sabia o velhor Heraclito, a justiça nasce das injustiças opostas que se harmonizam. Seriam sábios aqueles que, mesmo poderosos, soubessem respeitar a justa medida e não fossem conduzidos pela avidez. O que se está a passar na Europa, com especial destaque em Portugal, mais tarde ou mais cedo gerará um terrível movimento contrário. A memória das pessoas é muito curta e a cegueira imensa. Já todos esqueceram como o PREC de 1974-75 foi a contrapartida da ditadura. O delírio e os excessos que aconteceram foram uma forma de equlibrar os pratos da balança, desequilibrados por décadas de favorecimento de uns e perseguição de outros. Muitas faces tem a história.
e muitas cores tem a raiva.
ResponderEliminara cegueira de quem evita cruzar olhar com um mendigo pode sair-lhe cara, e sairá certamente,
Tudo tem um limite, e esse limite começa a ficar muito próximo.
EliminarImporta mudar a face actual da história, mas, mais importante do que mudar, é preciso saber "como" mudar, para impedir que a História recupere ou assuma novas faces que afinal são as velhas...
ResponderEliminarAbraço
A história é uma rapariga muito mal comportada e volúvel. Nunca sabemos como lidar com ela. É a contrapartida do livre-arbítrio.
EliminarAbraço