sábado, 1 de abril de 2023

A educação e o ChatGPT

Em 1977, Ernst Jünger publicou o romance Eumeswil. Um dos elementos futuristas presentes na obra é um dispositivo denominado luminar. Este permitia fazer perguntas sobre História e devolvia, num monitor, respostas textuais adequadas ou, mesmo, representações vivas dos acontecimentos. Menos 50 anos depois, a realidade aproxima-se do futurismo de Jünger. O ChatGPT da OpenAI ainda não devolve cenas históricas vivas, mas responde a perguntas e não apenas de História, mas de todas as áreas. É uma tecnologia baseada na inteligência artificial. Fornece informação adequada, embora também forneça respostas com erros. No entanto, eliminar os erros e tornar as respostas precisas é uma questão de tempo.

Durante a minha vida, vi chegarem muitas novidades ao sistema de ensino, mas nenhuma alterou radicalmente a natureza deste. As tecnologias de comunicação democratizaram o acesso à informação, isso, porém, não representou uma ruptura, pois a informação sempre esteve no centro do ensino. Permitiram formas mais atraentes de comunicação, mas o essencial continuava como sempre tinha sido. Uma tecnologia como o ChatGPT implica uma mudança de natureza da prática formativa dos alunos e da função dos professores. Estes deixarão de ser mediadores de informação para ser outra coisa.

O professor, em primeiro lugar, deve ajudar os alunos a compreender os problemas a trabalhar e ensiná-los a fazer questões pertinentes à inteligência artificial. Não ensina respostas dadas, mas a fazer inquéritos articulados para obter informação trabalhada. Uma segunda função docente é a de ensinar os alunos a estabelecerem protocolos e estratégias de monitorização da qualidade da informação obtida. Por fim, os professores devem ser criadores de modelos de apresentação, pensados em função de desenvolvimentos cognitivos pretendidos, dos resultados obtidos pelos alunos nos seus inquéritos. Pela primeira vez, a tecnologia presente no ChatGPT torna realmente obsoleta a existência de avaliações das aprendizagens baseadas em provas como testes.

Os professores têm resistido e com razão à transformação das suas funções. A tecnologia disponível não lhes permitia abandonar com segurança a tradicional função de mediadores de informação. O ChatGPT veio mudar a realidade, resta saber quanto tempo vão demorar os sistemas de ensino a adaptar-se a um novo mundo. Recordo que Platão, no final do Fedro, escreveu uma terrível diatribe contra os malefícios da escrita. O resultado foi o que se viu, nulo. Não vale a pena, agora, diabolizar a inteligência artificial, o resultado será idêntico à diabolização da escrita por Platão.

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