Uma notícia curiosa, mas, em aparência, sem relevo. No Público (online) de 11 de Abril, um texto apresentava o seguinte título: Na Croácia, homens ajoelham-se para rezar pela “restauração da autoridade masculina”. No lead da notícia, acrescentava-se: No primeiro sábado de cada mês, um grupo de homens católicos ajoelham-se (em locais públicos) para pedirem o fim do aborto, do sexo antes do casamento ou das roupas “provocantes”. O que se deve perguntar perante este fenómeno é se ele não passa de uma bizarria ou se, sendo bizarro, traz consigo um aspecto revelador do que se está a passar no mundo ocidental. No último artigo, reflectiu-se sobre como o nacional-populismo se apoderou do futuro. Este artigo foca-se num aspecto que irá ter crescente importância no discurso dos nacionais-populistas, a questão da relação entre homens e mulheres.
A gradual igualdade entre homens e mulheres – nomeadamente, na gestão da sua própria sexualidade – parece estar a atormentar cada vez mais um número significativo de homens. Não apenas a questão da sexualidade, embora esta seja central, mas também o facto de as mulheres terem desempenhos muito mais competentes e focados em muitas áreas, começando pelos estudos e acabando no mundo profissional, onde não são dominantes porque a rede masculina consegue estancar a sua ascensão em massa aos lugares de topo. A liberdade sexual das mulheres trazida pela pílula e pela revolução dos costumes nascida com o Maio de 68, aliada ao poder de focagem que elas têm demonstrado ao nível da educação e da profissionalidade, está a deixar muitos homens inseguros e incapazes de suportar a situação.
Isto é muito claro em países como os EUA ou o Brasil, onde o apoio a Trump e a Bolsonaro se liga a modelos de masculinidade impositiva, que trazem uma promessa de restauração dos velhos tempos da dominação do homem sobre a mulher. Na Europa, esses movimentos são menos visíveis, mas será uma questão de tempo, como prenunciam já as manifestações dos grupos de homens croatas ou aquilo que se passa na Hungria ou na Polónia. Seria, por outro lado, um erro pensar que este tipo de aspiração só teria eco entre homens com masculinidade tóxica. Encontra, e vai encontrar cada vez mais, apoio entre grupos de mulheres, como se vê no Brasil ou nos EUA. Esta questão irá contaminar a política e abrir uma frente de combate muito polarizada, com os nacionais-populistas a alimentar a fogueira. Ainda não se percebe muito bem, mas a questão central da política, o lugar dos grandes conflitos, será cada vez mais o problema da igualdade entre homens e mulheres. Passamos da velha luta de classes à guerra entre sexos.
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