quinta-feira, 27 de abril de 2023

A persistência da memória (22)

Heinrich Kühn, Wäscherin in der Düne, 1903

Um outro sentido ordenava então o mundo. A vida frugal e a natureza com os seus elementos ainda eram apreciadas como uma dádiva. As relações humanas talvez fossem mais cruas e os abismos que entre homens se intrometiam mais difíceis de saltar, senão intransponíveis. A velocidade, porém, não se apoderara definitivamente do mundo e a vida embalava-se num ritmo lento, para que cada coisa, depois de germinada, pudesse amadurecer sem pressa e assim tornar-se substancial ao encontrar o seu lugar. No entanto, um outro mundo escondia-se já nesses gestos ancestrais de pôr a roupa ao sol para branquear, para deixar que a velha natureza fizesse o seu trabalho e pudesse participar na dança que então  embalava a vida.

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