Se olharmos para o país político, parece que tudo corre com
tranquilidade. Alguns conflitos de interesses não chegam para pôr em causa a
bonomia que domina a vida política, pastoreada paternalmente pelo Presidente da
República. Os arrufos na coligação parlamentar que suporta o governo não põem
em causa o casamento, e a oposição substituiu a estridência, uma característica
típica das oposições portuguesas, pela colaboração, se não mesmo pelo
colaboracionismo. Sem problemas trazidos pela vinda de imigrantes ou de
refugiados, os portugueses parecem reconciliados com os ditames financeiros de
Bruxelas. A curto e talvez mesmo a médio prazo tudo parece tranquilo na
República Portuguesa.
Há, no entanto, à direita do espectro político e social dois
fenómenos que, se se interligarem, podem vir a pôr em causa o quadro idílico em
que se vive. O primeiro é mais difuso e tem, por enquanto, um contorno mais
social que político. Há uma direita social (com traços de extrema-direita) que destila
ressentimento. Está ressentida com António Costa, com o Presidente da
República, com o Papa, com a esquerda, com o mundo em geral. Tem uma forte
militância nas redes sociais e nos blogues, e encontra consolo em alguns
cronistas do Observador. Os mais
informados suspiram por Steve Bannon. Ainda não chegou o seu tempo e andam à
procura do homem que possa dar corpo ao ressentimento.
Mais ameaçador para a democracia portuguesa – até porque
pode estimular o fenómeno acima referido – é o sentimento de desrepresentação, digamos assim, que
parte significativa de militantes e simpatizantes do PSD sente. Está
profundamente desiludida com Marcelo Rebelo de Sousa, com a sua condescendência
para com o governo das esquerdas, e não se revê na oposição mole e
insubstancial que Rui Rio faz ao governo. Sofre de uma enorme desorientação, pois
não encontra uma resposta credível para as suas aspirações. Este problema é
muito mais grave para a saúde da democracia do que pode parecer.
A qualidade das governações está ligada à qualidade das
oposições. Se estas são frágeis, as governações tornam-se laxistas. E isto não
é o pior. O regime democrático vive da representação e se uma parte do país politizado
sente que a sua voz não tem expressão, está aberto o caminho para que se
procurem vozes fortes fora do sistema partidário democrático. A crise do PSD
não é uma mera crise partidária. É um problema da democracia portuguesa que
deveria preocupar todos os que, à direita e à esquerda, defendem uma democracia
liberal e representativa.
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