segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Nuvens no horizonte


Se olharmos para o país político, parece que tudo corre com tranquilidade. Alguns conflitos de interesses não chegam para pôr em causa a bonomia que domina a vida política, pastoreada paternalmente pelo Presidente da República. Os arrufos na coligação parlamentar que suporta o governo não põem em causa o casamento, e a oposição substituiu a estridência, uma característica típica das oposições portuguesas, pela colaboração, se não mesmo pelo colaboracionismo. Sem problemas trazidos pela vinda de imigrantes ou de refugiados, os portugueses parecem reconciliados com os ditames financeiros de Bruxelas. A curto e talvez mesmo a médio prazo tudo parece tranquilo na República Portuguesa.

Há, no entanto, à direita do espectro político e social dois fenómenos que, se se interligarem, podem vir a pôr em causa o quadro idílico em que se vive. O primeiro é mais difuso e tem, por enquanto, um contorno mais social que político. Há uma direita social (com traços de extrema-direita) que destila ressentimento. Está ressentida com António Costa, com o Presidente da República, com o Papa, com a esquerda, com o mundo em geral. Tem uma forte militância nas redes sociais e nos blogues, e encontra consolo em alguns cronistas do Observador. Os mais informados suspiram por Steve Bannon. Ainda não chegou o seu tempo e andam à procura do homem que possa dar corpo ao ressentimento.

Mais ameaçador para a democracia portuguesa – até porque pode estimular o fenómeno acima referido – é o sentimento de desrepresentação, digamos assim, que parte significativa de militantes e simpatizantes do PSD sente. Está profundamente desiludida com Marcelo Rebelo de Sousa, com a sua condescendência para com o governo das esquerdas, e não se revê na oposição mole e insubstancial que Rui Rio faz ao governo. Sofre de uma enorme desorientação, pois não encontra uma resposta credível para as suas aspirações. Este problema é muito mais grave para a saúde da democracia do que pode parecer.

A qualidade das governações está ligada à qualidade das oposições. Se estas são frágeis, as governações tornam-se laxistas. E isto não é o pior. O regime democrático vive da representação e se uma parte do país politizado sente que a sua voz não tem expressão, está aberto o caminho para que se procurem vozes fortes fora do sistema partidário democrático. A crise do PSD não é uma mera crise partidária. É um problema da democracia portuguesa que deveria preocupar todos os que, à direita e à esquerda, defendem uma democracia liberal e representativa.

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