domingo, 26 de maio de 2019

Bruno Lage, privatizações, comendas e europeias


BRUNO LAGE. O actual treinador do Benfica é, justamente, louvado pelo que fez no campo desportivo. Se o Benfica é campeão deve-o a Bruno Lage. Quero, porém, louvá-lo por outra coisa. Não apenas pela humildade e gratidão que ostentou, mas pelas palavras que disse sobre o país. O futebol é importante, mas há coisas mais importantes que o futebol. É preciso que o entusiasmo que as pessoas têm com o futebol o tenham com essas coisas. O apelo à civilidade nos festejos e no tratamento dos adversários talvez tenham caído em saco roto, mas mostram que Bruno Lage sabe que um país decente e uma vida civilizada são mais decisivos que os acasos do pontapé na bola. Seria bom que fosse escutado.

PRIVATIZAÇÕES. António Barreto descobriu que “as privatizações e as reprivatizações que moldaram a política e a economia das duas últimas décadas” contribuíram para o enfraquecimento do Estado democrático. No entanto, continua a acreditar no Pai Natal, a crer que foram feitas “pelas boas razões, por espíritos liberais, concebidas para libertar a sociedade e a economia”. Meu Deus, como é que tantos espíritos liberais e bondosos foram tão cegos? Como é que ninguém, tão iluminado, viu que as ricas empresas iriam ser devoradas e, em grande parte, aniquiladas? Ninguém conhecia a história devorista do capitalismo português? Ninguém conhecia os grupos estrangeiros a que se venderam os bens nacionais? Sim, o Pai Natal existe.

COMENDAS. Anda tudo num virote por causa do senhor Joe Berardo e do seu comportamento na Assembleia da República. Agora querem descondecorá-lo. Ora o problema não está em Berardo, mas nos critérios que conduziram há muito a julgar que os homens de dinheiro são o modelo que se deve oferecer à emulação da sociedade. Muitos dos condecorados fazem parte daquilo a que se chama crony capitalismo, um capitalismo clientelar cujo sucesso depende da relação com o poder político. Durante todo o século XX e no XXI, o capitalismo português não foi outra coisa senão um capitalismo clientelar, que o Estado apadrinhou e a cujos corifeus distribuiu, a torto e a direito, comendas.

EUROPEIAS. Por estranho que possa parecer aos portugueses, as eleições europeias são muito importantes. Parte significativa da nossa vida é regulada no Parlamento europeu. Não são indiferentes os deputados que elegemos. Por outro lado, a abstenção será sempre interpretada como desinteresse dos eleitores pela União Europeia. Será que nós portugueses nos podemos dar ao luxo de desprezarmos a União? Já imaginou o que seria Portugal sem a União Europeia? Domingo é dia de eleições, o melhor é ir votar.

[A minha crónica no Jornal Torrejano]

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