domingo, 12 de maio de 2019

Crise, Professores, Brexit e Venezuela


1. CRISE POLÍTICA. A questão da contagem do tempo de serviço congelado dos professores foi uma bênção caída do céu para os socialistas. Deu-lhes oportunidade de se mostrarem responsáveis, e mostrou uma oposição de direita desorientada, perdida entre o eleitoralismo puro e duro e, quando confrontada com a reacção de António Costa, em recuo humilhante perante a opinião pública. Com as tomadas de posição conhecidas do CDS, PSD, PCP e BE parece que a crise está resolvida. O governo consegue infligir uma derrota total às pretensões dos professores. Isso dará, caso o governo não cometa erros graves, muitos votos ao Partido Socialista.

2. A POSIÇÃO DOS PROFESSORES. Entre a imagem que os professores têm de si e da sua profissão e aquela que os outros têm vai uma grande distância. As elites (políticas, económicas, universitárias e sociais) desprezam os professores do ensino não superior. A plebe democrática varia entre o ódio ostensivo e o ressentimento surdo. Basta visitar as redes sociais. A longa conflitualidade em que os professores estão envolvidos não ajuda a sua imagem. No entanto, o problema está noutro lado. Para as elites, a grande maioria dos alunos que frequentam o ensino público é descartável e a sua educação demasiado cara. Precisam que eles estejam na escola entretidos na socialização, mas para isso não é necessário pagar o que se paga a técnicos especializados (professores) no saber disciplinar. Quem não acreditar vá estudar as reformas educativas do actual governo.

3. BREXIT. A saída do Reino Unido da União Europeia está uma salganhada tal que já se fala, com alguma viabilidade, de um segundo referendo. Por norma, vitupera-se a irresponsabilidade de David Cameron, a impotência de Teresa May, a duplicidade de Jeremy Corbyn ou a malvadez dos brexiteers. Talvez, também aqui, o problema esteja noutro lado, esteja no instituto do referendo. Como é que uma matéria tão complexa se pode resolver com uma pergunta com apenas duas respostas? Uma coisa pode-se aprender com o que se passa no Reino Unido: há que moderar o entusiasmo com os referendos.

4. O AZAR VENEZUELANO. O azar da Venezuela é ter petróleo. Isso incendeia a imaginação dos reformadores sociais e abre o apetite às potências deste mundo. O chavismo não passou de um delírio ateado pelo petróleo. Hoje está na mão dos interesses russos e, possivelmente, chineses. A oposição, por seu lado, não é melhor. Dividida e dobrada aos interesses norte-americanos, cujo embargo está a deixar o país na miséria, tem muito menos apoio popular do que as televisões querem fazer crer. Ter petróleo, um azar dos diabos.

[A minha crónica no Jornal Torrejano]

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