1. CRISE POLÍTICA.
A questão da contagem do tempo de serviço congelado dos professores foi uma
bênção caída do céu para os socialistas. Deu-lhes oportunidade de se mostrarem
responsáveis, e mostrou uma oposição de direita desorientada, perdida entre o
eleitoralismo puro e duro e, quando confrontada com a reacção de António Costa,
em recuo humilhante perante a opinião pública. Com as tomadas de posição
conhecidas do CDS, PSD, PCP e BE parece que a crise está resolvida. O governo
consegue infligir uma derrota total às pretensões dos professores. Isso dará,
caso o governo não cometa erros graves, muitos votos ao Partido Socialista.
2. A POSIÇÃO DOS
PROFESSORES. Entre a imagem que os professores têm de si e da sua profissão
e aquela que os outros têm vai uma grande distância. As elites (políticas,
económicas, universitárias e sociais) desprezam os professores do ensino não
superior. A plebe democrática varia entre o ódio ostensivo e o ressentimento
surdo. Basta visitar as redes sociais. A longa conflitualidade em que os
professores estão envolvidos não ajuda a sua imagem. No entanto, o problema
está noutro lado. Para as elites, a grande maioria dos alunos que frequentam o
ensino público é descartável e a sua educação demasiado cara. Precisam que eles
estejam na escola entretidos na socialização, mas para isso não é necessário
pagar o que se paga a técnicos especializados (professores) no saber
disciplinar. Quem não acreditar vá estudar as reformas educativas do actual governo.
3. BREXIT. A
saída do Reino Unido da União Europeia está uma salganhada tal que já se fala,
com alguma viabilidade, de um segundo referendo. Por norma, vitupera-se a
irresponsabilidade de David Cameron, a impotência de Teresa May, a duplicidade
de Jeremy Corbyn ou a malvadez dos brexiteers.
Talvez, também aqui, o problema esteja noutro lado, esteja no instituto do
referendo. Como é que uma matéria tão complexa se pode resolver com uma
pergunta com apenas duas respostas? Uma coisa pode-se aprender com o que se
passa no Reino Unido: há que moderar o entusiasmo com os referendos.
4. O AZAR VENEZUELANO.
O azar da Venezuela é ter petróleo. Isso incendeia a imaginação dos
reformadores sociais e abre o apetite às potências deste mundo. O chavismo não passou de um delírio ateado
pelo petróleo. Hoje está na mão dos interesses russos e, possivelmente,
chineses. A oposição, por seu lado, não é melhor. Dividida e dobrada aos
interesses norte-americanos, cujo embargo está a deixar o país na miséria, tem
muito menos apoio popular do que as televisões querem fazer crer. Ter petróleo,
um azar dos diabos.
[A minha crónica no Jornal Torrejano]
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