sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

A persistência da memória (6)

Elliott Erwitt, Confessional, Poland, 1964

Só a persistência da memória pode explicar que, mesmo durante um regime político adverso à religião, se instale um confessionário na rua e as pessoas façam filas para serem escutadas e absolvidas pelo sacerdote. A memória que persiste, porém, é dupla. Uma colectiva, a força de uma tradição ancorada nas práticas de um nós, a memória geral de uma cultura. Outra, subjectiva. Não apenas a memória de uma pertença, mas também a do mal cometido, aquilo que é assunto de confissão. Sem memória, a consciência não encontra o que confessar. Aquilo que se confessa nunca é o mal praticado, mas a memória que dele se tem, mas nada assegura que um e outra coincidam.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.