sábado, 11 de dezembro de 2021

Sonhos numa noite de Verão 31

André Kertész, Place Gambetta, Paris, 1929
Ouvia a música ritmada da água a cair na rua. Havia tempestade. Pelo menos, parecia trovejar ao longe. Senti-me febril. Uma inquietação estranha apoderara-se de mim e o coração descompassava-se a cada instante. Senti-me sufocar. Corri para a janela e abri-a. Ainda era de dia, mas a chuva rompera os muros que o Verão, contra ela, nunca esquece de erguer. Respirei fundo, a inquietação não abrandou. Num passeio, um homem, sob um guarda-chuva caminhava como se tivesse um destino. Tremi ao vê-lo. Tinha a certeza da sua identidade. Quando passou, olhou-me. Não sem terror confirmei que era eu que, sob o aguaceiro, ali ia. Ao passar pela minha janela, não consegui evitar olhar-me nos meus próprios olhos. A noite caiu dentro de mim. 

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