André Kertész, Place Gambetta, Paris, 1929 |
Ouvia a música ritmada da água a cair na rua. Havia
tempestade. Pelo menos, parecia trovejar ao longe. Senti-me febril. Uma
inquietação estranha apoderara-se de mim e o coração descompassava-se a cada
instante. Senti-me sufocar. Corri para a janela e abri-a. Ainda era de dia, mas
a chuva rompera os muros que o Verão, contra ela, nunca esquece de erguer.
Respirei fundo, a inquietação não abrandou. Num passeio, um homem, sob um
guarda-chuva caminhava como se tivesse um destino. Tremi ao vê-lo. Tinha a
certeza da sua identidade. Quando passou, olhou-me. Não sem
terror confirmei que era eu que, sob o aguaceiro, ali ia. Ao passar pela minha
janela, não consegui evitar olhar-me nos meus próprios olhos. A noite caiu
dentro de mim.
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