Um dos problemas desta abordagem do confronto político é que o resultado depende totalmente dos árbitros. No futebol, por muito que um árbitro possa distorcer o resultado através de más decisões, há ainda os golos que são marcados e os que são falhados. O que os jogadores fazem em campo tem, por norma, relevo para o resultado. No caso dos debates, o que conta são as paixões políticas dos árbitros-comentadores. Os resultados dizem mais daqueles que atribuíram classificação que do desempenho dos políticos. Este problema, apesar de tudo, tem pouco relevo.
Um problema mais grave é a transformação completa da política num confronto entre hooligans de várias cores. A hooliganização da política é interessante para a comunicação social, pois gera continuamente tempo de antena. Os políticos preocupam-se em marcar pontos – isto é, golos – através daquilo que um hooligan pode perceber, ideias simples e soluções simplistas. Os grandes problemas, devido à sua complexidade, são arredados da campanha eleitoral, tornam-se secretos. A ânsia da comunicação social em dominar a política conduz a que esta se torne cada vez mais obscura, pois o recurso a uma linguagem básica e ao fogo-de-artifício oculta as dificuldades que estão por detrás das várias soluções propostas.
Não menos grave é que esta futebolização da política instaura um caldo cultural propício para projectos populistas. O populismo é uma forma de hooliganismo político. Vive de ideias simples e de afirmações bombásticas. Actua no campo das emoções e dos sentimentos e progride pela eliminação do debate sensato e do exame racional dos problemas. A comunicação social, que em tempos teve um importante papel na vida democrática, está a criar condições culturais e psicossociais favoráveis a projectos autoritários. A lógica de mercado a que essa comunicação social está sujeita impede-a de reconsiderar a sua actuação. Ela vive não da informação, mas do desencadear das emoções, tal como o futebol.
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