segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Milagre e sacrifício

Max Klinger, Sacrifício

Há dias escrevi aqui que só um milagre salvaria a esquerda de uma derrota ignominiosa nas eleições de ontem. Houve um milagre. Não apenas o PSD não foi, nem de perto nem de longe, o partido mais votado, como os socialistas conseguiram uma maioria absoluta, com a qual ninguém contava. Aliás, mesmo nos círculos mais elevados do partido havia um temor acentuado pelos resultados. Mantendo a linguagem religiosa - mesmo em sociedades laicas a política tem muito mais a ver com a religião do que aquilo que se pensa - esse milagre foi obtido, como muitas vezes acontece, através de um sacrifício. Os resultados do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda representam um autêntico acto sacrificial. António Costa conduziu-os ao altar e, como cordeiros, imolou-os. Melhor, ofereceu o cutelo com que os portugueses, nas urnas, os imolaram. 

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