Um chefe militar pode ser mais ou menos talentoso, mas a hierarquia, a disciplina e a eliminação da conflitualidade no seio da instituição militar não se podem comparar com o que se passa na vida política, toda ela fundada no conflito de interesses e na necessidade de os gerir, evitando rupturas drásticas no consenso mínimo que deve existir. Vejamos uma comparação. Enquanto o Vice-Almirante comandava o processo de vacinação fundado numa liderança que não era contestada, um Presidente da República ou um Primeiro-Ministro não podem – felizmente, acrescento eu – exercer os respectivos poderes do mesmo modo. A um militar, basta-lhe ser eficaz na missão atribuída. A um político não basta ser eficaz. Ele tem de saber conjugar interesses opostos, lidar com fortes oposições, adequar-se ao facto de possuir poderes limitados. Um político necessita de possuir uma plasticidade que um chefe militar pode dispensar.
Os portugueses, por vezes, deixam-se seduzir por homens fortes e soluções simples, coisa que um militar pode apresentar como currículo. Em política, porém, nada é simples nem se resolve com voz do comando. Governar um país – ou qualquer tipo de comunidade – não é a mesma coisa que cumprir uma missão militar. Os cidadãos não são soldados que estejam às ordens do Presidente da República e do Primeiro-Ministro, aos quais devam obediência. São iguais ao Presidente e ao Primeiro-Ministro. Todos devem obediência apenas à lei. O que significa isto? Ser um excelente militar não dá qualquer competência para ser um político minimamente razoável, capaz de gerir os conflitos legítimos que espontaneamente surgem entre cidadãos livres. Seria um equívoco eleger-se um Presidente baseado numa competência que nada tem a ver com a virtude política.
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