Há quem
defenda, mesmo nesta hora terrível para a Europa, o fim da NATO e a
desmilitarização da União Europeia. O que significaria isso para os europeus?
Pura e simplesmente deixá-los à mão de qualquer predador que se se sentisse
esfomeado. Só a cegueira ideológica e um ódio contumaz aos EUA, fundado no mais
puro ressentimento, podem justificar esta posição. Os EUA são uma potência
imaculada, têm as mãos limpas de sangue, abraçam sempre e só as melhores
causas? A resposta a qualquer uma dessas questões é a mesma: não. Aqui, porém, devemos
voltar à perícope da adúltera, à injunção com que Cristo responde a escribas e
fariseus a propósito de uma mulher apanhada em adultério: Aquele que dentre
vós está sem pecado, seja o primeiro que lhe atire uma pedra.
As potências, grandes, médias ou pequenas, agem sempre de acordo com a leitura que fazem dos seus interesses. Por muito que todos nós gostássemos, não é possível dobrá-las ao direito e muito menos à moral. O respeito pelo outro e a convivência pacífica resultam não da bondade intrínseca dos poderes deste mundo, mas do medo que têm uns dos outros. Esse medo é o melhor conselheiro e o promotor da sensatez. Quando as potências se sentem livres, não hesitam em intervir violentamente em defesa dos seus interesses, como se está a assistir com a invasão russa da Ucrânia. Não é Kant que rege as relações internacionais. É Maquiavel. Ora, os EUA, descontando o poderio, é igual a qualquer outra potência. Rege-se pelos mesmo princípios. Tem, contudo, em relação à Europa, incluindo Portugal, uma vantagem. Partilha com ela os grandes valores e uma certa interpretação do mundo. Há uma comunidade de vida. Se a NATO existe é, tendo em conta o que são as relações internacionais, para defender essa comunidade de vida.
Imaginemos que a NATO acabava, que a União Europeia de desmilitarizava ainda mais. Quem a defenderia de um ataque? Enquanto os lobos fortalecem os músculos e treinam os maxilares, defender que sejamos todos um rebanho de inocentes cordeiros não é apenas uma idiotice. É pior que isso. Isto não significa que devamos querer participar em aventuras bélicas, que queiramos espalhar os nossos valores através da força das armas. Significa apenas um sinal para fora. Significa que haverá um preço a pagar em caso de qualquer agressão. Felizmente, a Europa, que durante décadas tergiversou sobre a sua responsabilidade de autodefesa, percebeu isso nesta hora. Foi preciso a tragédia da guerra na Ucrânia. Acabar com a NATO? Desmilitarizar a Europa? Isso seria uma traição inominável aos povos europeus.
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