sábado, 13 de agosto de 2022

Crescer para melhorar o clima?


A entrevista, vinda a lume no Público online, de 6 de Agosto, a Alessio Terzi, economista na Comissão Europeia e professor na Universidade de Lille, a propósito da publicação do livro Growth for Good, tem pelo menos um mérito. Terzi diz abertamente que “Precisamos do crescimento para evitar um cenário de conflitualidade, algo que é uma possibilidade muito forte numa era de alterações climáticas”. Sublinha, desse modo, que qualquer alteração ao nosso modo de vida que conduza ao empobrecimento ou anule a expectativa de enriquecimento implicará uma grande conflitualidade, a qual porá em causa o próprio combate à degradação do planeta. Defende que o problema não está no capitalismo, mas no facto de este se apoiar, ao nível energético, em combustíveis fósseis. Será, em última análise, o modelo energético que terá de mudar.

Será que crescimento, no âmbito da economia capitalista, e combate às alterações climáticas são compatíveis? Em abstracto, não existe incompatibilidade entre uma coisa e outra. Os mercados movem-se segundo os interesses dos consumidores. Se estes passarem a comprar apenas o que não tem efeitos nefastos para o ambiente, então as empresas reorientam os seus produtos para satisfazer os compradores. Poder-se-á ainda acrescentar que a economia de mercado possui uma grande plasticidade e capacidade de adaptação à realidade. Contrariamente às economias planificadas, dependentes da burocracia e de decisões centrais, a economia de mercado age, ao mesmo tempo, aos níveis global e local, sendo a tomada de decisão completamente descentralizada ou, melhor, centrada nas empresas que estão no mercado e são sensíveis às suas flutuações. Contudo, esta visão enfrenta pelo menos três objecções.

Em primeiro lugar, os interesses das grandes multinacionais ligadas aos combustíveis fósseis e dos países cuja economia depende da sua exploração. Tanto uns como outros são demasiado poderosos e querem tudo menos uma transformação verde. Em segundo lugar, a inovação tecnológica, apesar de pujante e com grande capacidade de crescimento, não parece ser suficientemente rápida para permitir compatibilizar crescimento económico e protecção ambiental. Por fim, os próprios consumidores são pouco sensíveis à defesa do ambiente, se isso implicar uma alteração dos seus hábitos. O ideal seria um pujante capitalismo verde, num ambiente político de democracia liberal, com alguma regulação estatal, tal como defende Terzi. A realidade, porém, poderá ser bem menos agradável, uma miscelânea de catástrofes, conflitos e crescimento dos Estados autoritários.

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