Se olharmos para o arco constitucional dos países democráticos da Europa, encontramos três grandes famílias ideológicas. O conservadorismo, o liberalismo e o socialismo. Os conservadores, apesar da sua pluralidade, enfatizam a estabilidade e a continuidade das instituições, e se queremos encontrar um conceito para definir essa ideologia será o de tradição. Os liberais, que existem tanto na direita como na esquerda, defendem um conjunto de valores políticos e morais, onde se inclui a democracia e a importância do indivíduo. O conceito central desta corrente é o de liberdade. Por fim, os socialistas, que vão desde os velhos sociais-democratas até aos comunistas, têm, com diferentes intensidades, preocupações sociais. A ideia nuclear será a de igualdade. Em resumo, as principais correntes ideológicas do arco constitucional giram em torno da tradição, da liberdade e da igualdade.
Os três
conceitos, porém, emergem na Igreja Católica e são inerentes à sua própria
natureza. A tradição apostólica, que estabelece uma conexão entre Cristo e os
crentes actuais. A liberdade dos homens, pois são dotados de livre-arbítrio,
isto é, de capacidade de escolha, como ensinou Santo Agostinho, e a igualdade de
todos os seres humanos perante Deus. São estas três ideias constitutivas do Cristianismo
originário que, com a implosão da Igreja, após a Reforma protestante e o
advento do Iluminismo, se emancipam do domínio da religião e são apropriadas
pelo mundo da política. Em todas as três principais ideologias políticas do
arco constitucional ressoa ainda, de algum modo, a voz do Cristianismo e da
Igreja Católica. Não admira, assim, que, em certas circunstâncias, pareça existir
o milagre de um grande consenso. O actual Papa tem uma grande capacidade de
fazer pontes, mas isso deve-se, também, ao papel que o Cristianismo teve e tem
ainda na modelação das nossas sociedades e das nossas crenças políticas.
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