segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Cardílio (24 sonetos) 23

Anónimo romano, Mosaico de Alejandro en Issos

Dois mil anos. Seremos de amanhã

As ruínas, traídos pelo voo

Do corvo, pelas árvores cansadas

Do jardim. Haverá na forte seiva

 

Um fragmento do olhar, a voraz célula

No cerne a morte tem anunciada.

Cardílio, de ti irmão sempre serei

Na planície de pó, nas águas rasas

 

Do Inverno, do rio para o mar correm.

Será a aurora negra em cada dia

E na espuma das horas ouviremos

 

O lamento dos pássaros de Apolo,

Belo na agonia próxima, ditoso,

Pois cedo estaremos a cantá-lo.

2007 

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