Carlos Botelho, Entrada da Barra, 1964 (aqui) |
Em travessas sujas de solidão
flutuam na ardência do ar
casais de namorados tão
enamorados,
tão presos na urdidura de cal,
as mãos nas mãos a tecem.
Nem a luz do amor os ilumina,
nem o fogo do desejo os aquece.
Vivem do Inverno preso no olhar,
caminham entre nuvens
sem o dolo, sem a dádiva de um
destino.
Às vezes, fogem para o Castelo
e choram o tumulto da dor,
tão aguda lhes dói.
A luz ilumina a poeira das ruas,
e ouve-se a mágoa dos corações
no bater dos sinos ao meio-dia.
Barcos encalhados na areia,
os jacarandás pelas avenidas
espalham sombras e saudades.
S. Jorge espera o fogo do dragão,
a morte que lhe deu vida.
Quantos anos tens?
E ela mostra-lhe os dedos e
ele conta-os, conta-os,
pela tarde recoberta de luz,
o Tejo a marulhar ao longe,
as águas espessas,
o coração ainda aberto,
praça desvalida,
sem armas e sem tréguas,
ao repouso da morte entregue.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.