Jan Davidsz. de Heem, Sumptuous Still Life with Fruits, Pie and Goblets, 1651 |
Uso um browser que quando se abre envia para uma página com notícias, todas elas com títulos construídos para explorar ou a curiosidade mórbida, ou a indignação, ou qualquer outra paixão. O mais repugnante, todavia, são os anúncios em forma de notícia cujo título promete ganhos extraordinários e riqueza fácil. Esta estratégia comercial assenta em dois pressupostos referentes à natureza humana. Em primeiro lugar, que ela se move pura e simplesmente pela avareza, que o objectivo humano é acumulação de riqueza. Em segundo lugar, que esse objectivo dispensa o esforço, não é incompatível com o vício da preguiça, pelo contrário. Que os homens sempre desejaram acumular bens materiais e que a preguiça não é uma invenção actual, isso não representa qualquer novidade. A diferença reside no facto de sempre ter havido a consciência de que se estava perante condutas viciosas, que agora são apresentadas como virtuosas. O progresso moral da modernidade acabou - contra a vontade, por certo, dos seus arautos - na transformação do vício em virtude.
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