sexta-feira, 29 de setembro de 2023

O progresso moral da humanidade (14)

Jan Davidsz. de Heem, Sumptuous Still Life with Fruits, Pie and Goblets, 1651

Uso um browser que quando se abre envia para uma página com notícias, todas elas com títulos construídos para explorar ou a curiosidade mórbida, ou a indignação, ou qualquer outra paixão. O mais repugnante, todavia, são os anúncios em forma de notícia cujo título promete ganhos extraordinários e riqueza fácil. Esta estratégia comercial assenta em dois pressupostos referentes à natureza humana. Em primeiro lugar, que ela se move pura e simplesmente pela avareza, que o objectivo humano é acumulação de riqueza. Em segundo lugar, que esse objectivo dispensa o esforço, não é incompatível com o vício da preguiça, pelo contrário. Que os homens sempre desejaram acumular bens materiais e que a preguiça não é uma invenção actual, isso não representa qualquer novidade. A diferença reside no facto de sempre ter havido a consciência de que se estava perante condutas viciosas, que agora são apresentadas como virtuosas. O progresso moral da modernidade acabou - contra a vontade, por certo, dos seus arautos - na transformação do vício em virtude.

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