Apesar do optimismo do futuro Papa, não apenas os teólogos fazem, perante os não crentes religiosos, a figura de palhaços, como esta figura se encarnou em muitas áreas da sociedade onde os especialistas não cessam de chamar a atenção para o perigo iminente que rodeia as pessoas. Estas olham para eles como palhaços que estão a representar um papel, talvez sublime, mas que nada tem que ver com a realidade em que se vive. Os exemplos são muitos, mas bastam três. O aquecimento global, as desigualdades sociais e a erosão dos regimes democráticos. Em todas eles existe uma denúncia sistemática dos perigos que se aproximam, enquanto os destinatários das mensagens encolhem os ombros e riem-se, não tanto por admirarem o desempenho dos arautos – dos palhaços, na linguagem de Kierkegaard – mas porque não desejam crer nela, pois isso põe em causa os seus hábitos e o modo como estão instalados na vida.
Resta saber se
a falta de fé perante os especialistas laicos que tratam do aquecimento global,
das desigualdades sociais e da erosão dos regimes democráticos não é já uma
consequência de uma falta de fé na palavra dos teólogos e na existência de
Deus. Ao nível social, é plausível pensar que a erosão da fé religiosa – erosão
que não nasce de uma atitude crítica de tipo Iluminista, mas de um comodismo
egoísta perante as exigências da religião – tenha arrastado a descrença perante
a palavra de todos aqueles que anunciam dificuldades e propõem alterações, mais
ou menos radicais, ao estilo de vida que se tem ou se deseja vir a ter. Para os
aldeãos das redes sociais, todos aqueles que trazem problemas são palhaços,
cujas palavras fazem rir, mas não devem ser levadas a sério. Isto enquanto o
circo arde e o fogo se propaga para a aldeia.
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