Fernando Lemos, Cena animal, 1949 (aqui) |
Por
que razão é inaceitável a complacência, se não a cumplicidade, com aquilo que o
Hamas fez em Israel? A razão é muito simples. É porque aquela acção contra
civis desarmados, escolhidos como alvo militar, seguida de todos os horrores
que se conhecem, revela uma faceta que os seres humanos trazem dentro de si, manifesta,
para falar em linguagem religiosa, o demoníaco que está dentro de cada um. É a
esta faceta que desde há muito se tenta domesticar, proibir-lhe a demonstração.
É esse o trabalho da civilização. Pôr à distância o tenebroso que há nos
homens. Ora, quando este se manifesta como se manifestou em Israel, aqueles que
lhe encontram justificação – os fins justificariam os meios – não apenas
desvalorizam o horror daquela manifestação de crueldade demoníaca, mantendo a
metáfora religiosa, como mostram que, caso um fim o justificasse, o seu
espírito estaria disposto a cometer os mesmo actos hediondos, estaria pronto para
deixar o que há de pior em si se manifestar-se, fazendo com que a barbárie rompa o
verniz civilizacional que nos permite viver uns com os outros, e contribuir para que o terror se torne o Zeitgeist, o espírito dominante do nosso tempo. Por isso, qualquer complacência com o que se passou é absolutamente inaceitável.
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