quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Eleições e segurança


Estamos em campanha eleitoral e as questões mais importantes para o país não merecem qualquer atenção dos candidatos. Essas questões estão relacionadas com a segurança, a interna e a externa. Os candidatos preferem os jogos florais em torno de irrelevâncias, como a da avó de Mariana Mortágua ou os tiros de Famalicão, ou aquilo que imaginam que os eleitores querem ouvir, como as mirabolantes promessas sobre as pensões ou a de um contínuo crescimento económico, como se existissem vários planetas Terra disponíveis para os nossos desejos. Contudo, os problemas de segurança interna e externa são bem mais preocupantes para a vida das pessoas, mesmo que estas não o percebam, do que o crescimento da economia, as pensões, os impostos e os salários.

O problema da segurança interna não reside em termo-nos transformado num país inseguro. A insegurança nasce do comportamento das próprias forças de segurança, do seu afrontamento ao poder político legitimamente constituído. O caso da manifestação perante o Capitólio, no dia do debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, foi o sinal decisivo de que a autoridade do Estado está a ser escavada, politicamente escavada. Também a ameaça dos militares entrarem em protestos é um inadmissível desafio à ordem constitucional e à segurança interna. Pode-se compreender que polícias e militares estejam descontentes com as suas remunerações, o que não os diferencia da restante função pública. O que não se compreende é o desafio à autoridade do Estado daqueles que têm a função de velar por ela.

Os desenvolvimentos geopolíticos trazidos pela invasão da Ucrânia e a possível vitória de Donald Trump nas eleições de Novembro, nos EUA, estão a pôr em causa os fundamentos da defesa externa de Portugal, assente na NATO. O fim da NATO, ou uma versão desta sem empenho dos EUA, tornará toda a Europa, Portugal incluído, um alvo apetecível de potências inimigas, mesmo daquelas que estão em silêncio, contidas pela existência da NATO. Que papel, por exemplo, seria o da Turquia num mundo sem a NATO, a que ela pertence? Que pretensões poderia acalentar? A questão da segurança externa, aliado à da segurança interna, é o principal problema que o país enfrenta e não a questão das pensões, dos salários, dos impostos. Discutir o futuro das Forças Armadas e o da afronta à ordem pública e constitucional são assuntos vitais para o país, mas aqueles que querem governar preferem ignorá-las, pois escaldam e não dão votos. Preferem os jogos florais e a tômbola das promessas.

P.S. O artigo foi escrito ainda antes de Pedro Passos Coelho ter estabelecido relação entre imigração e insegurança, contribuindo desse modo para o crescimento da insegurança.

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